24 de junho de 2012

ITINERÁRIO PARA QUEM CHEGA A LIBERDADE

a estrada desce o morro do marta em curva e pó
e se aproxima vagarosa do calçamento
os paralelepípedos (palavra tão grande
quanto a vila)
amparam os passos as rodas os pneus os cascos
como colchões de ar
no silêncio da praça antônio guimarães
(antiga praça do sabiá)
e espalham-se por algumas ruas e travessas
antes de deixarem ou no morro da coreia
ou no morro do grupo escolar ou na ponte
do valão liberdade
quem apenas faz de liberdade
uma passagem minúscula
para uma viagem idem

na porta das casas dos botequins e das vendas
os olhares amigos vigiam quem passa
burro carroça automóvel cachorro boi cavalo gente
e cumprimentam
uns respondem outros não
uns outros param e trocam dois dedos de prosa
sem pressa
depois seguem ou se deixam ficar
para o jogo de sinuca
para o cisprandi
para continuarem a viver conforme têm vivido
esquecidos do mundo
perdidos no tempo
dispersos no coração de cada filho ausente

André Dunoyer de Segonzac, Le petit village et son église, 1884 (em artvalue.com).
(Publicado orginalmente em Gritos&Bochichos em 29/3/2010.)

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