15 de dezembro de 2011

ANOTA AÍ, ZIFIO!

Anota aí, zifio, o que eu vô passá pra suncê.
Suncê pega uma galinha preta, um moio de arruda, umas foia de comigo-ninguém-pode. Amarra as foia, mais a arruda, no pé da galinha. Leva tudo pruma cachoeira no meio da mata fechada, numa menhãzinha de sexta-fera treze. Chegano lá, suncê tira a ropa, fica pelado, c’as coisa de fora, balangano, tumano a viração da menhã. Moia os pé na água fria, pega o amarrado que tô mandano suncê fazê, merguia bem merguiado na água, que não pode sê de remanso, tem de sê de correnteza, e começa a batê no corpo de suncê do mais baixo pro mais arto, da solera dos pé à cumiera da cabeça, de frente e despois des costa. No momento em que suncê tivé bateno vai dizeno essas palavra que eu vô ditá pra suncê. Anota direitim que é pra mode num tê enroscamento com os orixá, com as potença celeste. Tá prestano atenção, zifio? Então, anote aí: Eu – aí fala cumé que suncê chama - sou um disgramado ferrado, tô no mato sem cachorro e perciso de proteção. Venho trazê meu corpo nu aqui nessa água pura e de corrente, que é pra afastá os male do corpo e fechá ele das quizília dos meus inimigo. Arrogo a todos os orixá, a todas as potença celeste, daqui e da mãe África, que é pra mode eu pará de fazê merda, caçá rumo na vida, aprumá meus negoço, largá mão de andá atrás de muié casada, butá um freio na marafa e no cisprandi. Des’ modo, entrego meu destino nas mão de todos os orixá e de todas as potença celeste, arrenego as bestera que fiz no antigamente e bem nesses úrtimo dia, como no entrevero c'a muié do Vardi, que quaje cabô em morte matada. E, se no prazo de três mês huvé quarqué miora na minha situação, prometo arriá despacho suntuoso, de fazê inveja nos otro, nos conforme das orientação do Pai Prudenço, nas intenção do seu orixá de cabeça. Saravá! Aí, suncê fala saravá três vez. Joga o amarrado da galinha, c’arruda, mais a comigo-ninguém-pode no meio do mato, e dá um merguio nas água fria do riberão, sem se incomodá se os trem encoeiê demais. Despois eles vorta no normá, conforme a lei naturá do encoie-espicha, do espicha-encoie.
Escreveu tudim, zifio? Tá tudo anotadim aí? Entonce, suncê pricura um corgo d’água conforme disse e vai fazê essa obrigação. No finá de três lua cheia, suncê vorta aqui, com um conto de réis na mão, mais dois frango preto, sangue de um bode novo, sete pena de urubu, quatro pata de galinha d’angola e meio quilo de mio de pipoca, pra mode fazê as obrigação pro meu santo. Causa que senão, isso vai dá um revertero na sua vida, de suncê se arrependê de tê nascido. Periga de suncê até virá muiezinha. Num toma tenença não, pra suncê vê só! Vai em paz, zifio, debaixo da proteção de Pai Prudenço!

Imagem em talesvale.blogspot.com.

4 comentários:

  1. Passando mal de rir......quá...quá...quá...quá...quá...

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  2. Faz-me lembrar o "Esconjuro" da queimada galega. Conhece? É "rezada" enquanto se queima a aguardente com grãos de café, açúcar amarelo, casca de limão.

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  3. Até eu fiquei com medo que me acontecesse alguma coisa!!!...

    A Daisy falou no Esconjuro da Queimada Galega, aqui vai ele escrito em Galego:

    Mouchos, curuxas, sapos e bruxas.
    Demos, trasgos e diaños,
    espíritos das neboadas veigas.
    Corvos, píntegas e meigas:
    feitizos das menciñeiras.
    Podres cañotas furadas,
    fogar dos vermes e alimañas.
    Lume das Santas Compañas,
    mal de ollo, negros meigallos,
    cheiro dos mortos, tronos e raios.
    Ouveo do can, pregón da morte;
    fuciño do sátiro e pé do coello.
    Pecadora lingua da mala muller
    casada cun home vello.
    Averno de satán e belcebú,
    lume dos cadáveres ardentes,
    corpos mutilados dos indecentes,
    peidos dos infernais cus,
    muxido da mar embravecida.
    Barriga inútil da muller solteira,
    falar dos gatos que andan á xaneira,
    guedella porca da cabra mal parida.
    Con este fol levantarei
    as chamas deste lume
    que asemella ao do Inferno,
    e fuxirán as bruxas
    a cabalo das súas vasoiras,
    índose bañar na praia
    das areas gordas.
    ¡Oíde, oíde! os ruxidos
    que dan as que non poden
    deixar de queimarse no augardente
    quedando así purificadas.
    E cando este beberaxe
    baixe polas nosas gorxas,
    quedaremos libres dos males
    da nosa alma e de todo embruxamento.
    Forzas do ar, terra, mar e lume,
    a vós fago esta chamada:
    se é verdade que tendes máis poder
    que a humana xente,
    eiquí e agora, facede que os espíritos
    dos amigos que están fóra,
    participen con nós desta Queimada.

    O conxuro da queimada Galega foi escrito por Mariano Marcos Abalo en 1967.

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  4. Vejam aí, amigos Daisy e Alfredo, que os feiticeiros encontram-se em todas as partes. Deliciosa esta Queimada Galega.

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