6 de setembro de 2011

ENTRE TAPAS E BOFETÕES

Entre tapas e bofetões, o casal viveu nove meses, até que se desse a separação irreversível, de reconciliação impossível, nem mesmo diante de juiz togado. Neste tempo, suficiente para gerar um filho, marido e mulher geraram tão-somente um ódio recíproco, de raro registro nas páginas matrimoniais daqui e dacolá, d’hoje e d’antanho.
O último beijo que trocaram foi o selinho singelo, após o sim, diante do altar, o padre a incentivá-los, e com o testemunho insincero de um grupo de convidados muito mais interessados nos comes e bebes que viriam a seguir, do que na felicidade dos dois.
Por isso, não havia como aquele consórcio ter obtido qualquer êxito, por mínimo que fosse.
Já na viagem de lua de mel, de que não desistiram para não perder o dinheiro investido, começaram a se desentender, que nem a paisagem idílica do hotel localizado de frente para o lago de Como, em terras de Itália, refreou os embates que se seguiriam cada vez mais constantes.
O único momento que, pode-se dizer, foi de relativa paz se deu quando da tentativa de consumação do casamento, aquela história de botar o pingo no i, porque, hoje em dia, não há mais o que romper, pois já vem tudo rompido antecipadamente. Mesmo esse velho prazer machista de ser o primeiro não ocorreria com ele. Bem que não desse importância a isso. Mas, enfim, seria alguma coisa a marcá-los definitivamente: quem foi o primeiro, de quem eu fui o primeiro.
A viagem de volta se deu num silêncio que os antigos diriam sepulcral, constrangedor. Nem na hora de escolher o jantar, tiveram a educação de olhar um para ou outro. Mastigaram a gororoba aeroviária sem efeito sonoro que pudesse ser registrado por aparelhos de gravação.
Ao chegarem a casa é que se reiniciou o conflito cuja duração só terminou diante do magistrado, para o ponto final na pendenga instaurada.
Os advogados das partes entraram em acordo prévio, sacramentado pelo homem da lei, com a divisão equânime dos bens amealhados durante o período, para que ninguém se julgasse prejudicado na partilha: cinquenta por cento de ódio, pavor, indiferença para ele e para ela.
Três dias depois, ambos já estavam com sua intolerância disponível na praça, procurando por parceiros que quisessem compartilhá-la, até que tudo novamente recomeçasse.
Imagem em mandinhaevih.blogspot.com.

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