30 de abril de 2013

MINHA MÃE (Oração profana)

(Para minha mãe, no seu aniversário.)

Minha mãe esculpiu a vida aos poucos
Sem pressa
Tateando entre as dificuldades dos tempos
: Quando não havia carne
Fazia angu
Fritava os lambaris que meu pai pescava

Contou os filhos aos cinco
Encarreirados os três primeiros
As duas últimas bem devagar

Minha mãe zelou a prole e o marido                                            
Rezou por eles
E ainda reza as orações que sabe de cor
E aquelas outras tantas que o coração lhe dita

Minha mãe é uma rocha em meio às vagas infindas
Que quebram à porta de casa
E ameaçam sua plantação de gente
Espalhada por netos e bisnetos
Desde o mais galalau até o mais pequetito

Minha mãe está lá
No seu canto
Silente
Debulhando o terço entre os dedos cansados
Na esperança de que nenhum dos seus
Se perca da trilha da luz
O seu maior medo na vida

E está em paz porque sabe que cumpre sua lida
Desde antanho até então
Com a tenacidade exigida aos determinados
E aos que não se entregam nunca
Porque a fé que a move é infinita

Pietà - El Greco
El Greco, Pietà, 1592 (em wikipaintings.org).

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