Na fábrica, pegava a porca, engraxava o parafuso,
encaixava ele nela, enroscava os dois até grimpar e dizia com ar satisfeito:
Eta parafusinho bem arroxado!
Na hora do almoço, esquentava a marmita atulhada,
sentia seu peso, pegava o garfo, comia com a boca cheia e dizia feliz: Eh
marmitinha bem comida!
Depois do almoço, palitava os dentes, bebia um bom gole
d’água, tomava cafezinho, dava um arroto espaventoso e falava cheio de gases: Ê
arrotinho bem puxado!
Ao final do trabalho, ia para o bar, tomava chopinho,
comia tremoços, traçava uma cana firme, destrinchava sardinhas, ficava de
pileque e balbuciava meio pastoso: Eia ferrinho bem tomado!
Pegava o trem sempre lotado, empurrava daqui, apertava
dali, avançava sem querer, descontava do lado, tirava o pé de baixo, reclamava
do parceiro e gemia contrariado: Que trenzinho mais desgraçado!
Chegava a casa cheirando a suado, nem queria saber da
mulher, os filhos já dormindo, deitava como um porco, roncava feito um urso
hibernando e sonhava: Mas que sonhinho arretado!
A mulher esperava apenas o terceiro ronco, abria a
porta, chamava o vizinho, deitava no sofá, arreganhava as pernas, o sarro comia
até lá pelas tantas e dizia no fim: Eh maridinho bem corneado!
Bem cedo, acordados, ela fazendo a marmita, a discussão
já começava, sua vaca, seu viado, sua piranha, seu filho-da-puta, os filhos
chorando, gritando, e os vizinhos pensando: Eta casalzinho mais safado!Imagem em accorrea.com.br |
(Publicado originalmente em Gritos&Bochichos, em 7/3/2010.)
Hihihihihihihihihihi...o amor é mesmo lindo!
ResponderExcluirTaí uma porca e um parafuso que nunca deviam se enroscar.
ResponderExcluirMas talvez seja aquela história de que sempre há um parafuso enferrujado para uma porca grimpada. Ou vice-versa, nunca se sabe. Mais ou menos por aí, Paulo Laurindo.
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