Lavínia lavava a roupa como se lavasse a vida. Levava o cesto limpo na cabeça, caminho de casa, cantando certas canções dolentes, que envolvem a gente, que revolvem trapos, que enganam as tristezas e por aí afora.
O mesmo caminho trilhava sempre, o capim gordura conhecia seus requebros, seus horários.
Lavoisier, seu marido de nome esquisito naqueles ermos, vivia de transformar pedra em pau, pau em pedra, grão em trigo, trigo em pão, fazendo das tripas coração, nos oito baixos da sanfona. Lavoisier era quase um mágico caipira. E trabalhava a madeira, e fazia pião, carrinho, bodoque, caminha, cadeirinha e brinquedos mais.
Na cama estreita, no quarto estreito, na estreita casa, enquanto Lavínia lavava a alma no corpo de Lavoisier, Lavoisier transformava a rudeza da vida, a aspereza da mão em mil formas distintas de brinquedos de corpo sem forma definida, mas de um prazer tão gostoso que parecia que Lavínia lavava o céu límpido e ele fazia brinquedos com os tufos de nuvens perdidas na imensidão.
Imagem em gartic.uol.com.br. |
(Publicado originalmente em Gritos&Bochichos em 13/3/2010.)
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