14 de julho de 2012

POEMA LINEAR Nº 1: JOÃO&MARIA

Maria tinha mania de se desfazer em ais e uis nos braços de João.

E ficava dolente, feito violão dedilhado com cuidado, como só a João competia tanger.
E Maria urgia em estar com João, como se fosse um determinismo, uma consumição.

Então João perdia o chão, nos braços de Maria.
E ia João à procura do corpo de Maria, como se fosse carpir eito de terra fofa, ao luzir do dia, ao raiar da aurora. De qualquer dia que fosse, a qualquer hora, pois qualquer dia com Maria era um agonia de gostoso, de um tempo que não existia.

E João, bem moço, carpia que carpia o corpo de Maria, num trabalho jeitoso, jeito de peregrinação, como nas antigas procissões e romarias, em que se suplicava ajuda do céu, quando a seca exigia.

Tal Maria se dava, que a um só soluço de João, o céu se abria em choro e sobre a terra exsicada corria um turbilhão aquoso, que extinguia a seca mais cruenta que pudesse haver neste mundo.

E obrava João sobre o corpo de Maria o milagre da frutificação. Até que um dia brotava um pé de gente, em forma de menino, do ventre de Maria.

E assim ia a vida. E assim a vida ia.

Tarde chuvosa (foto do autor).


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