Ainda que anjos tenham língua
Tampouco
falo a língua dos bichos
Conquanto
os bichos tenham tido língua nas velhas fábulas
Mal e
porcamente falo a língua incorreta dos homens
Meus iguais
meus dessemelhantes
Que às
vezes até se presta a confusões
Mas sempre
com a vontade de me comunicar
Por isso
não gosto de metáforas herméticas
Cujos
sentidos escapem ao bom senso cotidiano
Falo a
língua da copa e da cozinha
Da sala
de visitas da casa simples
Que oferece
uma xícara de café a quem chega
Falo a
língua do alpendre sobre o terreirão de café
A língua
do quintal barrido com bassoura
A língua
dos nobres salões da elite
Posso
até entender
Porém
prefiro a língua que me fervia na boca
Na minha
vilazinha perdida
De Liberdade
E que me dava tanto gosto!
Obra de Carlos Scliar (1920-2001), em vitruvius.com.br. |
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