Senhor, não sei se existes de fato,
Mas, se existires, faz que a inclemênciaCom que - parece - lidas com o tempo,
As forças naturais que desgovernas
E despejas, desproporcionais, sobre a fragilidade de teu povo,
Matando-o, desalojando-o, dando-lhe um fim imerecido,
Possa também ela abater-se, na mesma medida
E com toda a fúria com que tens reinado
- Pai furioso que Tu és -,
Sobre as autoridades que prevaricam, tergiversam,
Roubam, desviam recursos, malversam verbas,
Iludem os crédulos com promessas falsas,
Não realizam os trabalhos necessários
A aliviar as dores, as perdas, os desesperos,
A construir o futuro de novas gerações;
Fraudam licitações, corrompem, apropriam-se,
Esbulham, grilam, invadem, falsificam, inadimplem;
Brincam de fazer justiça;
Deixam hospitais à míngua;
Desprezam a educação digna para nossos filhos;
Abandonam a infraestrutura do país ao Tu darás;
Ceifam vidas em estradas criminosas;
Manobram os meandros do poder em próprio proveito;
Riem-se das leis de mentira que elas mesmas criam;
Apadrinham seus familiares, amigos e asseclas,
Com o bem de todos, da maneira mais desavergonhada;
Traficam influências;
Defendem interesses escusos de grupos criminosos,
Em detrimento do interesse popular;
Associam-se em quadrilhas para tomar o poder;
Escarnecem cinicamente da confiança do eleitor que,
A cada período, é constrangido a simular democracia,
A qual confiança atiram na lata do lixo,
Tão logo assumem seus mandatos, seus cargos, suas sinecuras.
Faz, Senhor, com que esta tua fúria desmesurada
Que despejas sobre o comum dos homens
E suas casas, e suas famílias, e suas posses, e suas alimárias, e suas searas,
[e suas colheitas e seus nadas,
Possa também se abater, com a mesma desproporção,
Com a mesma virulência e fatalidade,
Sobre esses teus execráveis filhos poderosos e omissos.
Isto, se Tu existires e fores justo!
Amém!
Mestre Vitalino, Retirantes (cerâmica, séc. XX), Museu de Arte Popular do Recife (imagem em artepopularbrasil.blogspot.com). |
O problema é que depois de ter enviado Seu Filho para purgar todos os pecados, Ele passou a abominar a vingança, ou seja, deixou-nos à própria sorte.
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