(Para meu pai Argemiro, in memoriam, e meu neto Francisco.)
Enquanto
cuido do meu neto
Vem-me
à memória
Com
forte odor afetivo de muitos anos
As
maçãs que meu pai trouxe na mala
Ao
voltar do Rio de Janeiro
Num
dia qualquer da minha infância
O
cheiro doce das maçãs
Recendia
no quarto único
Da
casa pobre do interior
E me
fazia viajar por lugares
A que nunca havia ido – nem jamais fui –
Nem
mesmo desconfiava que existissem
Mas
que supunha estarem muito longe da vila
Lugares
destinados apenas a produzir maçãs
Olorosas que só elas
A
ficarem definitivamente em minha memória olfetiva
Esse
misto inseparável de nariz e lembrança
Que o
tempo constrói dentro da gente
Indelevelmente
Meu
neto está aqui ao lado
Miúdo
indefeso inocente
E nem
desconfia de que quem cuida dele
Neste
exato momento
É
apenas um menino perdido num tempo ausente
![]() |
Paul Cézanne, Natureza morta com maçãs, 1890 (em ruadireita.com). |
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