10 de julho de 2013

CORTEJO

(Publicado orginalmente em Gritos&Bochichos em 18/3/2010.) 
meio-dia, sol a pino.
há um enterro na vila.
rumo ao morro da coreia
segue o féretro cansado,
levando um morto estimado.
e é possível sofrer
com a morte, mesmo o calor
sendo mais forte, escaldante,
que a lágrima que brota
do rosto de cada um.
é que dos olhos escorre
um suor, tipo de sangue:
são nossos poros que choram,
quando já ao coração
é proibido chorar.
segue o féretro ritmado
ao cemitério do morro,
enquanto todas as lágrimas,
rolando, olhos e rosto,
como se fossem um riacho
cheio de pedras, de seixos,
fazem com que o coração
despenque de morro abaixo.
e dentro do ataúde
um pouco daquela gente.
Cândido Portinari, Enterro da rede, 1944 (em arte.seed.pr.gov.br).



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