4 de maio de 2013

PEQUERI


Estou parado no carro, com o banco recostado, tentando tirar uma pestana depois do almoço, numa rua calma de Pequeri.
 
Abro os vidros das portas para que a brisa calma me embale.

Faz um sol de maio, mas estou protegido pela sombra da casa de três andares em cuja frente estacionei.

Jane entrou numa casa do outro lado, totalmente iluminada por este mesmo sol que me produz a sombra, para refazer antigos percursos emocionais, do tempo de seu curso de formação de atores na Escola de Teatro Martins Pena, perto da Praça da República, no Rio de Janeiro. Parecem duas realidades completamente distantes, díspares, no tempo e no espaço. O curso realizado na década de setenta do século passado, no Rio de Janeiro, e a busca pelo antigo colega, no tempo presente, nesta bucólica cidade mineira que faz lembrar o poema Cidadezinha qualquer, de Drummond.

Ela tanto perguntou aos moradores que encontrávamos, que acabou por achar a Rita, irmã de seu colega Pequeri, que era o nome por que atendia o Gilberto, oriundo desta pacata e simpática cidade mineira.

Contudo não me foi possível a sesta pós-almoço, porque, embora estivesse praticamente em outro mundo, diverso do burburinho e do medo que fazem a vida da cidade grande, me mantinha desperto a trilha sonora vinda do casarão, na qual se ouvia a obra de Cartola cantada por diversos astros da música brasileira.

E ali, naquele quase fim de mundo para as minhas pretensões citadinas, a despeito também de minha origem interiorana, pude constatar que o mundo - esse mundão de Deus, como se costuma dizer no interior - é bem menor. Basta que, numa rua deserta de uma cidadezinha qualquer, além das "casas entre bananeiras", soe um símbolo maior que nos torna cidadãos semelhantes, identificados na mesma cultura.

Daí a pouco, vejo vir acompanhando a Jane a irmã do Pequeri, com um sorriso e tanto no rosto e um porta-retratos com a foto dele, entre Paulinho da Viola, Zuenir Ventura e Izabela Jaguaribe, diretora do documentário sobre o sambista, Meu tempo é hoje, do qual ele participou na parte técnica.

Estava lá, talvez apenas dois quilos menos magro e os cabelos já grisalhos, o Gilberto Pequeri, que conheci na Martins Pena, nos duros anos de chumbo, quando aprendia com minha mulher a magia da arte de representar.
 
Rua de Pequeri (foto do autor).
 

10 comentários:

  1. Que feliz fiquei em "achar" essa sua passagem pela nossa pequena Pequeri. Que bom ter encontrado ao menos a foto do seu amigo, agora ficará fácil encontrá-lo também. Não esqueça o caminho, volte...

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    1. Pena que não saiu seu nome. Sua cidade, embora pequena, é bonita e hospitaleira. Gente simpática! Obrigado pela leitura e pelo comentário.

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    2. também não entendi pq meu nome ficou oculto, me chamo Rana e domingo passado, comentei com a Rita sobre sua postagem. Pequeri é mesmo uma cidade cativante. Volte mais vezes, pra que tenhamos sempre bons textos sobre a terrinha!!!!

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    3. Olá, Rana! Agora sei quem é você. Mas no perfil ainda aparece desconhecido (unknown). Obrigado pela resposta e, certamente, voltarei a Pequeri.

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  2. Fiquei emocionada com sua crônica sobre Pequeri. Muito Linda! As pessoas daqui gostaram muito também! Obrigado por ter mostrado essa bela homenagem a Pequeri, Rana.

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    1. Embora pequenina, Pequeri é uma cidade que encanta, justamente por esse jeito simples e acolhedor. Obrigado pela leitura, Rita. Abraços.

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  3. Saint-Clair,
    Sou pequeriense, amiga da família "DO PEQUERI" e amei sua postagem sobre Pequeri.Parabéns pela sensibilidade em apreciar as peculariedades de uma cidade pequena.
    Abraços Vera Guarize

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    1. Obrigado pela leitura e pelas palavras, Vera. Também sou de um lugarzinho pequeno no norte do Estado do Rio. Então acho que não foi muito difícil. Abraços.

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  4. Olá, Saint-Clair,
    fiquei sabendo de seu Blog através da Rita, minha vizinha, aqui de pequeri. Gostei de seu texto sobre Pequeri, e gostaria de publicá-lo em meu Blog, que é o http://conhecendopequeri.blogspot.com Faça-me uma visita! Já vou ser sua seguidora!Ah, esta foto que vc tirou, esta casa fica fica bem próximo à casa de Dorival Caymmi,aqui nesta rua...
    Abraços,
    Gilda Maria

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    1. Olá, Gilda! Será uma honra ter meu texto publicado em seu blog. Pode usá-lo. Vou visitar seu blog. Abraços.

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