7 de outubro de 2011

A TECNOLOGIA É O BICHO!

Desde que o mundo é mundo, e põe mundo nisso, o homem inventa um jeito a mais de cada vez fazer menos. Desde que pegou o primeiro pedaço de pau – ou o primeiro osso de mamute –, ele viu que poderia estender seus braços, sua força e seus domínios.
As consequências disto todos estão cansados de saber, porém nunca é demais refrescar a cabeça dos meus amigos leitores, que me honram com seu tempo perdido aqui nestas linhas.
Até se inventar a luz elétrica, o troço vinha marchando lentamente, com um passo atrás do outro, como numa marcha organizada, cautelosa.
Depois do tal fio desencapado, aí a coisa degringolou, e é uma invenção atrás da outra, numa sofreguidão sem fim.
Algumas dessas invenções maravilhosas que o ser humano – e, por que não dizer, desumano? – inventou facilitaram sobremaneira nossa vida, trazendo conforto e bem-estar tanto para a patroa, quanto para a empregada. Vejam só que beleza é aquela maquininha que tira o pó da casa, sem levantar poeira, como comumente faz a velha vassoura. Quem tem asmático em casa sabe do que estou falando.
Outras, no entanto, foram mal e porcamente inventadas. Parecem coisas feitas nas coxas, sem cuidado, sem o estudo de impacto em nossa vida que deveriam ter.
Uma delas, por exemplo, é a garrafa térmica. Para que serve uma garrafa térmica, senão para deixar o café morno e com gosto de velho? Aquele velho bule que minha mãe e todas as mães anteriores tinham sobre o fogão de lenha, lá no canto, mantinha bem mais a temperatura, o paladar e o cheiro da bebida.
Outra invenção que só agora veio atender realmente a finalidade para que foi criada é o papel higiênico. Não sei se todos sabem – esse pessoal que nasceu depois da tevê em cores talvez não tenha conhecimento disto – mas, nos antigamentes, lá no interiorzão, na época em que nem privada existia, funcionava a folha de inhame, o sabugo de milho e jornal velho. Isto quando havia jornal.
Aí a ciência providenciou a invenção do papel higiênico, que foi a esperança geral das hemorroidas humanas. Contudo os primeiros exemplares pareciam lixa de madeira e faziam tanto estrago quanto os sabugos de milho e eram mais fracos – e põe fraco nisso! – que a folha de jornal. Com frequência, o dedo do usuário escapava da linha de segurança e furava aquela folhazinha tenra, levando a que ele se fizesse um autoexame de próstata inesperado. Não quero falar nem no estado em que ficava o dígito do cidadão.
Em seguida, inventaram de fazer o tal picote, que não funcionava nem por um decreto. Serviu, isto sim, para piadas. O papel rasgava em qualquer lugar, menos no picote. A seguir, resolveram dobrar a folha: é o tal folha dupla, picotado. Acrescentaram florzinha, desenho, perfume, texto, história em quadrinhos, mas continuou o mesmo fracasso de antes, talvez um pouco atenuado.
Imagem em dersinhodersinho.blogspot.com.
Pois não é que agora, com os avanços da tecnologia, criaram o papel higiênico com folha tripla!
É uma beleza! Arrebentar no picote ainda é aperfeiçoamento a ser atingido em futuro próximo, porém o dedo tem mais segurança na chamada hora agá. Quando o usuário segura firme a porção a ser usada, sabe que pode confiar. O tal exame inesperado fica para o proctologista.
O preço é mais salgado. Não sei se as classes populares, que fazem exatamente a mesma coisa que todas as demais classes - abastada, alta e remediada - terão acesso a este portento da ciência moderna, mas já é um avanço alvissareiro. Pelo menos, quem pode pagar pelo preço tem o dedo incólume, após o uso.
Viva a tecnologia! Viva o papel higiênico folha tripla, picotado!

2 comentários:

  1. Uma coisa que venho buscando desvendar é pra que serve a gravata! Já experimentei de todo jeito: babador, guardanapo, assoador... tapete, cortina, pano de centro, bandana, cinturão... a nenhum deste usos pareceu se adequar a bendita e, no entanto, não deixo de ganhar uma em dia de aniversário.

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  2. Hahahahaha... para o texto e para o comentário do Paulo. Mestre, o meu ânus tem problema olfativo, é incapaz de sentir o perfume do Neve.

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