Viúva, fora morar com o filho mais velho, a nora e os netos, após alguns anos de solidão na casa grande da serra de Rosal de Santana, já quase embicando para o Espírito Santo, em terras de São José de Calçado.
Habituada à dura vida da roça, embora de algumas posses, sem contato com os confortos que o século XX oferecia. Principalmente, banheiro montado dentro de casa. Na sua época, essa peça quase não existia. Ou, quando existisse, ficava apartada do corpo da construção e atendia pelo nome de quartinho.
Assim, começou a se deliciar com cada aparelho novo, cada objeto que facilitava a vida: o liquidificador, a panela de pressão, o fogão a gás, o rádio, a televisão e o banheiro ao alcance da mão. Sobretudo, o banheiro. E, no banheiro, a paixão maior: o bidê. Que aparelhozinho interessante, confortável! Era sentar ali e perder quase uma manhã toda, a água quentinha, carinhosa, sensual. Ela que já perdera seu homem há muito, quase deslembrada dessas coisas saborosas. Mas ali estava o bidê aconchegante, amigo, amante.
Imagem em gartic.uol.com.br. |
A nora, quando descobriu o motivo de tanta demora no banheiro, ficou entre chocada e penalizada. Comentou com o marido que, cheio de pudores filiais, mandou fazer uma reforma geral. A peça, propositadamente, foi esquecida.
A velha, ao ver o novo banheiro sem bidê, entrou numa depressão tão grande, numa apatia tão dolorosa, que o filho se viu na obrigação de, por amor filial, devolver ao seu devido lugar o aparelho objeto do prazer do restinho da chama que ainda queimava dentro de sua velha mãe.
Nem vem que não, essa velhas taradas de Bom Jesus não aceitamos lá em Calçado. Rachando de rir...
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