5 de setembro de 2010

O CASO DO RAPAZ DE NEGRO DO ATERRO DO FLAMENGO

Varou a noite uivando feito um cão ferido, um lobo solitário. De Copacabana à Praça XV. Da Praça XV ao Instituto Médico Legal. Sua única e exclusiva namorada, a mulher mais carinhosa de toda a cidade do Rio de Janeiro, quiçá do Brasil, morrera atropelada por um ônibus Lins-Copacabana, na altura do Hotel Glória.

Na delegacia, em depoimento, o motorista do ônibus, Inocêncio Assumpção dos Anjos, declarou não ter percebido a pedestre toda vestida de negro, porque a noite estava muito escura. Os passageiros, sonolentos, só se lembravam do baque seco do corpo no ônibus. O trocador, no momento, limpava a unha comprida do dedo mindinho. Mais testemunhas não houve.

Como é comum acontecer às vítimas, essa também passou a ser a culpada de sua própria morte.

O namorado, arrancado à loucura do dia a dia carioca, mergulhou no caos noturno, a mente em frangalhos, os olhos pingando dor, a figura também de negro a aterrorizar os casais perdidos entre as sombras do Aterro.

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