4 de setembro de 2010

BOLETIM DO TEMPO

são escuras as manhãs de medo
que se anunciam sobre o país
e a vida continua indecente como antes

há cães pelas esquinas mijando nos postes
e pobres velhos esfarrapados crianças
inundando as praças e as avenidas
num carnaval sem música e sem fantasia

os cidadãos de bem assistem ao desfile
do alto dos camarotes e do aconchego dos automóveis

são opacas as tardes de incerteza
que assaltam todo o país
e a vida continua indecente como antes

ninguém chora
há apenas a digestão bem feita
ou o ronco inaudível dos estômagos iludidos
aguardando o sono da noite imprevisível
que se abaterá sobre o país

(Equivoquei-me no título do poema, agora republicado corretamente. O título anterior refere-se a texto diferente, a ser postado em breve.)

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