2 de maio de 2013

SOBRE VERBOS

Verbo sempre foi a pedra no sapato de todo estudante, em Língua Portuguesa. Quando o professor iniciava a matéria, era um Deus nos acuda.
Certa vez, inclusive, numa palestra que dava para professores-monitores do projeto de ensino por módulos do Centro Educacional de Niterói, fui instado por uma das colegas, para que os módulos que produzíramos fossem mais fáceis na parte de verbos. Disse, então, para o auditório lotado que não havia como os verbos serem fáceis, sendo o português língua derivada do latim. O português até que facilitou um pouco, porém a dificuldade vem desde aquela língua.
Os verbos são, sem dúvida, a classe de palavras mais complexa de nossa língua. Um verbo como cantar, por exemplo, tem mais de uma grosa (Veja lá o que isso significa!) de formas, contadas entre as formas simples e as compostas, só na voz ativa. Vejam que não é pouca coisa.
Além disso, os verbos também se classificam em regulares, irregulares e por aí afora.
Pensando em toda essa riqueza, que alguns chamam de complicação, resolvi fazer aqui uma breve exposição, para que os meus amigos leitores possam compartilhar dessas minhas ideias verbais. Obviamente que com um novo enfoque, jamais tratado pela gramática tradicional ou transformacional, gerativa ou degenerativa. Celso Cunha, Lindley Cintra, meu mestre Evanildo Bechara e Noam Chomsky hão de me perdoar a invasão a sua área de atuação.
Comecemos.
Verbo irregular é aquele que denota uma ação que só pode ser considerada irregular se as pessoas descobrirem – ou a polícia, o que é bem pior. Enquanto isso não ocorrer, ele é desavergonhadamente um verbo regular. Exemplo: prevaricar. Este verbo é irregular apenas quando o prevaricador é pego com a boca na botija. Sem que isso aconteça, ele continuará sendo regular e seu sujeito fará cara de bom moço o tempo todo. Ele será, no entanto, sempre irregular, para o objeto da prevaricação, sobretudo se for você. Mas, desde que tal objeto não ponha a boca no trombone, é sinal de que está gostando da coisa. E aí a gramática não poderá fazer nada a seu favor.
Nesta mesma linha de prevaricar estão os verbos roubar, locupletar(-se), desviar, enganar, sonegar, iludir, traficar e outros da mesma laia. Enquanto o sujeito verbal ficar indeterminado, tudo bem. Ao ser pego, ele chora, se arrepende e diz que jamais repetirá tal ação. Isso, se não resolver processar o examinador da ação verbal, por calúnia, injúria e difamação.
Verbo regular, por seu turno, é um do tipo pagar, principalmente as dívidas atrasadas e os impostos que o governo cobra do contribuinte. Contudo, caso o sujeito não aja a ação verbal, ele passa a ser irregular por inadimplência e passível de cobrança judicial, com juros e multas. Está aí a Receita Federal que não me deixa mentir.
Também são regulares: regular, desregular (esse estranhamente, mas é que tudo desregula regularmente), amar, desamar (e seus derivados: casar, descasar), chover, inundar, desbarrancar, desmoronar (esses quatro últimos em períodos de temporais são bastante regulares); e, via de consequência, desviar dinheiro público para calamidades (verbo muito regular em diversas prefeituras país afora). Mandar e obedecer também são regulares. Já desobedecer é irregular, em caso de empregado e de cidadão que vivam sob ditadura política ou militar.
Reflexivo é o verbo que reflete: refletir, espelhar; ecoar, reverberar (no caso sonoro). O verbo cuja ação se volta sobre o próprio sujeito também é classificado reflexivo: suicidar, tirar meleca, palitar os dentes, coçar saco, beber e ter ressaca.
Verbos incoativos (nomezinho esquisito) são os que marcam o princípio da ação. Um verbo deste tipo é engravidar. A pessoa engravida e só daí nove meses é que o resultado da ação dará as caras. Prometer é outro, mas de significado incompleto caso tenha como sujeito algum tipo de político que conhecemos muito bem. Endurecer talvez possa ser também enquadrado neste grupo, sem que isto resulte em alguma coisa, sem auxílio químico.
Há também os verbos defectivos, que apresentam defeito na conjugação. Eis alguns exemplos desse tipo: capengar, mancar, manquejar, coxear, claudicar, gaguejar, usar dentadura, ficar banguela, entrar no cheque especial, dever, endividar-se, pedir emprestado ao cunhado.
Verbo auxiliar, como o próprio nome indica, auxilia. Dentre eles estão: auxiliar, ajudar, emprestar, ceder, conceder, doar, socorrer, ser voluntário e não ganhar dinheiro por isso, fazer favor, dar cola, guiar cego, empurrar carro com bateria arriada, puxar saco do chefe e mais uma centena de outros aparentados.
E, para terminar, um tipo de verbo que tem dado o que falar ultimamente: os chamados verbos abundantes.
Os verbos abundantes modernos estão mais para substantivos proverbiais do que propriamente para verbos. Repare só nos exemplos: Panicats, Mulher Melancia, Valesca Popozuda, Nicole Bahls, Carol Dias, Dani Bananinha, Ellen Roche e mais um monte que se vê nas praias de norte a sul do país, com a graça de Deus.
Por hoje, ficamos por aqui, prometendo voltar numa próxima oportunidade, como dizia o Narck Pontes, locutor do serviço de alto-falantes da minha vilazinha de Carabuçu, nos anos 50.

A primeira Gramática da Linguagem Portuguesa,
de Fernão de Oliveira, séc. XVI.
Imagem: nocturnocomgatos.weblog.com.pt.


2 comentários:

  1. Arriégua!! Soltaste os verbos, hein, amigo!! KKKK! Eu, como amante regular do nosso bom e velho Português, delicie-me com seus desvaneios verbais. Bechara que se cuide!!

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    1. Que Bechara, meu professor da pós-graduação, não me leia!

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