13 de janeiro de 2013

A MULHER E O MARIDO

A mulher é a rainha do mau humor.
O marido, não. O marido é praticamente um imprestável de pijamas.
A mulher vive de melodramas.
O marido, não. Vai sempre à praça jogar baralho com os amigos.
A mulher reclama da vida que leva.
O marido, não. Ele apenas finge que erra a tacada quando joga bilhar.
A mulher tem achaques a cada dia.
O marido, não. Bebe cachaça à noite e tem ressaca no dia seguinte.
A mulher insiste em comprar aquele novo aparelho de ar condicionado.
O marido, não. Sai à rua sem camisa, mostrando a barriga que já não tem nada de lisa.
A mulher toma soníferos para pegar no sono.
O marido, não. Fica na sala limpando as unhas com palito de dentes, enquanto vê filme pornô.
A mulher se levanta à noite para urinar, beber água e verificar se as portas foram fechadas.
O marido, não. O marido ronca a noite inteira sem o mínimo recato.
A mulher aposta na loteria, no bicho, no bingo.
O marido, não. Vive apenas dos proventos da aposentadoria da repartição e se diverte na birosca da esquina.
A mulher vai à praia de maiô de duas peças, velho do tempo da Rádio Mayrink Veiga.
O marido, não. Fica em casa ouvindo o elepê de Orlando Silva, tomando conhaque de ovo e aparando o bigode entintado, em modelo de dormente de linha férrea.
A mulher reclama com a vizinha do traste que arranjou.
O marido, não. Vai à pracinha, fuma, joga porrinha e acha que tem a vida que pediu a Deus.
A mulher não se lembra mais do tempo em que era sonhadora.
O marido, não. Vive na ilusão de que tudo vai dar certo.
A mulher operou varizes e tem problemas de fígado.
O marido, não. Apenas repete um velho pigarro engastalhado na garganta, desde que era noivo.
A mulher vai à missa lá uma vez ou outra, quando a situação aperta.
O marido, não. Vê Inezita Barroso na tevê e acompanha o cantor em O menino da porteira, Vaca Estrela e Boi Fubá e Marvada pinga.
 A mulher vai ao baile da terceira idade naquele clube do Andaraí.
O homem também vai, porque é o maior pé de valsa que a mulher conheceu em toda a sua vida.
E os dois rodopiam no salão ao som da Orquestra de Waldir Calmon, reproduzido no sistema de som.
A mulher, na volta para casa, diz meu velho a gente ainda aguenta bem um baile desses sem se cansar.
E o homem se lembra das histórias do Dancing Avenida que seu pai contava e solta uma longa baforada de fumaça.
A mulher e o marido entram em casa e a vida continuará a mesma no dia seguinte e assim por diante até o próximo baile da terceira idade naquele velho clube do Andaraí.


Henri de Toulouse-Lautrec, No Moulin Rouge, 1892 (em pt.wikipedia.org).

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