2 de novembro de 2013

SARITA MONTIEL DE ARAQUE

Chamava-se Marilu, mas queria mesmo era se chamar Sarita Montiel e estufar os seios fartos em decotes generosos, a boca breada de batom vermelho. Encasquetou-se com isso, logo depois de assistir ao filme La violetera, com a então famosa e encantadora atriz e cantora espanhola.

Decisão tomada, comunicou às amigas que, a partir daquele instante,  queria ser  chamada de Sarita, e disso não abriria mão.

Os mais novos, que não viram o filme, não sabem do que estou falando, não aquilatam a relevância do assunto. A figura de Sarita Montiel ocupava desde o cartaz do filme afixado à parede do majestoso Cine Monte Líbano, até a tela, a sala de projeção, bem como os sonhos dos jovens e a inveja das mulheres. Era coisa de cinema! Uma visão portentosa!

Deste modo, Marilu, aliás Sarita doravante, mudou todo o seu guarda-roupa, renovou a maquiagem e providenciou penteado compatível, a fim de evidenciar, ainda mais, a possível semelhança que vislumbrava ter com a espanhola famosa.

E foi assim, emperiquitada de Sarita, que adentrou o salão de bailes do seleto e refinado Aero Clube de Bom Jesus, quando a Orquestra Românticos de Cuba executava Besame mucho

Foi uma devastação o que ali se produziu. Não houve cabeça que não se virasse em direção àquela manifestação de fama, beleza e glória. Mais de um rapaz, inclusive, chegou a engolir o cigarro mal acabado de ser aceso. Uma e outra despeitada, ao retocar o batom, teve um siricotico de fazer risca vermelha em queixo caído. O tocador de pistom, esse então, não conseguiu segurar a nota longa da canção e teve de ser socorrido com falta de ar. O baile só não parou porque o presidente do clube, Taumaturgo Tavares, chegado um pouco antes, exigiu compostura dos membros da orquestra e dos dançarinos.

Sarita dirigiu-se à mesa reservada, através de um corredor aberto na diagonal do salão, soberana e envaidecida. Nunca ninguém, em tempo algum, até aquele exato momento, tinha causado tanto reboliço nas dependências do Aero Clube. Nem na eleição da rainha da Festa de Agosto de 1960, quando duas belas candidatas, disputaram voto a voto o escrutínio, com suas torcidas entusiasmadas.

O problema, no entanto, surgiu no dia seguinte, na ressaca do baile, como se diz. Bom Jesus passou a não ter mais rapaz algum que, de longe, se arvorasse em candidato ao coração de Marilu, ou melhor, Sarita. Isso, no entanto, ela só percebeu com o passar dos dias, das semanas e dos meses. Até que resolveu perguntar à sua amiga mais chegada o motivo de já não receber galanteios. Maria Célia foi sincera, foi taxativa:

- Sarita, com a ostentação que a sua pessoa adquiriu, ninguém tem peito nem pra chegar perto de você. Nossa cidade ficou pequena para o seu esplendor. Aqui você vai acabar sozinha, igual à Mona Lisa: admirada, mas intocada.

Sarita tomou um susto, quase desfaleceu. Não investira tanto para ficar pra titia. O objetivo era, justamente, o contrário. Mas, percebendo que a amiga estava forrada de razões, na semana seguinte deliberou fazer as malas e se mudar em definitivo para Niterói, na certeza de que o campo era maior para esparramar sua formosura sem par.

Quando lá chegou, teve decepção ainda maior: os mancebos da terra de Arariboia, a antiga e leal Vila Real da Praia Grande, estavam todos apaixonados por Barbarela e Jane Fonda, ao mesmo tempo, e disso também não abriam mão!


A atriz espanhola Sarita Montiel, no auge da beleza (em ofalcaomaltes.com).

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