20 de novembro de 2013

HISTÓRIAS REAIS, MAS QUASE MENTIROSAS*



“1 O 2 SACO DE CAL”

Zezé Borges, figura das mais importantes na história de Bom Jesus do Itabapoana, tanto na política, quanto na econômica, tinha uma sortida venda, naquele tempo em que não havia crediário formal e as compras eram feitas por caderneta, que o devedor sempre levava a cada ida ao estabelecimento.

Certo dia, recebe ele um bilhete em mal traçadas linhas de um fazendeiro das terras de São José do Calçado, vizinha cidade do meu amigo Zé Antonio Lahud, em que solicitava o envio de certa mercadoria. O bilhete garatujado dizia, objetivamente, o seguinte:  “Amigo Zezé, mande 1 o 2 saco de cal. Do amigo Fulano”.

Zezé achou exagerado o pedido de cento e dois sacos de cal, mas imaginou que o amigo resolvera caiar toda a cerca da fazenda, não só para protegê-la, bem como para deixá-la bonita e vistosa. Como não tivesse tanto saco de cal, apenas cinquenta, providenciou a remessa do seu estoque, acompanhado de outro bilhete: “Amigo Fulano, seguem 50 sacos. Depois mando o resto. Do amigo Zezé”.

Quando lá chegou a encomenda, o fazendeiro estranhou muito e não aceitou a entrega, pois não fora nada daquilo que pedira. Resolveu aproveitar a carona do caminhão de entrega que voltava, para esclarecer com o próprio Zezé o mal-entendido.

Chegando a Bom Jesus, foi logo falando ao comerciante:

- Que isso, Zezé?! Ficou maluco?! Mandar aquela montoeira de cal, que eu nem pedi?!

Zezé pegou o bilhete e lhe mostrou, dizendo:

- Ora, você me pediu para mandar cento e dois sacos de cal.

- Não é nada disso, Zezé. Tá escrito aí: Zezé, mande um “o” dois saco de sal.

- Mas aqui você escreveu cal.

- É que eu esqueci a cedilha!
Imagem em pt.dreamstime.com.

O PORCO DO QUINIM

Quinim Freire, também proprietário rural, só que em Bom Jesus do Itabapoana, era um homem alegre, divertido, cheio de histórias um  tanto absurdas. Os ouvintes atentos de seus casos diziam que ele era um grande mentiroso, desse tipo folclórico do interior, que passa bom tempo da vida matutando patranhas para dizer aos outros.

Lá um dia, Quinim Freire contava que estava criando uns porcos de raça, coisa muito avantajada, que chegavam a um tamanho nunca visto por aquelas bandas. Era raça vinda das estranjas, como dizia. Gavou tanto a qualidade dos porcos que disse que um deles já tinha chegado a dezenove palmos de comprimento. Os ouvintes da história não acreditaram, sabendo quem ele era. Porém, muito convicto, garantiu que era verdade, que o porco tinha crescido muito, e começou a mostrar no balcão do bar do Salim, onde eles se reuniam para a prosa e o cafezinho, contando compassadamente os palmos de sua mão imensa, homem alto que era.

- Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito...

Aí parou para olhar o ponto de partida da contagem, já um pouco desconfiado ele mesmo, sabendo que não estava nem na metade do tamanho que garantira. Então, saiu-se com uma exclamação, para não deixar dúvidas:

- Eh, porco grande, sô! Nove, dez, onze...


O TELEGRAMA

O glorioso time do Liberdade Esporte Clube, na década de 50 do século passado, foi excursionar lá para os lados da Zona da Mata de Minas Gerais, lugar longe, só demandado em viagem de caminhão de várias horas por estradas ruins. Era viagem de três dias: num vai; noutro joga; no terceiro volta. Por isso o presidente do clube alvianil, orgulho da vila, solicitou ao chefe da delegação que, imediatamente após a contenda, passasse telegrama dando conta do score do match entre os dois teams, como se escrevia na época, as palavras ainda não aportuguesadas.

No final daquela noite de um domingo chuvoso, o presidente recebe o telegrama, vazado nos seguintes termos: “CHEGUEMO, JOGUEMO, NUM GANHEMO, NEM PERDEMO. EMPATEMO. ASSINEMO, NICODEMO.”

Tudo dentro da mais perfeita comunicação que se poderia esperar do chefe da ínclita delegação.


“PANARÁ OU PURITIBA”

Certo dia, adentrou a venda de meu pai um velho freguês, homem simples das roças que rodeavam a vila, querendo comprar uma caixa de fósforo. Minha mãe, no momento, era quem estava atendendo ao balcão.

- Dona Zezé, quero uma ca’ de fósso - que era como, mais ou menos, as pessoas simples falavam.

Quando minha mãe foi pegar a caixa de fósforo, o freguês manifestou uma curiosidade antiga:

- Dona Zezé, ondé que é a fábrica desse fósso? Ouvi dizê que é no Panará.

Minha mãe, então, foi olhar no rótulo e lhe disse:

- É isso mesmo. Aqui está: fábrica em Curitiba.

Então ele replicou imediatamente:

- Ah! bão, então é em Puritiba e não no Panará.


(* Ou seria o contrário?)



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