“1 O 2
SACO DE CAL”
Zezé Borges,
figura das mais importantes na história de Bom Jesus do Itabapoana, tanto na
política, quanto na econômica, tinha uma sortida venda, naquele tempo em que
não havia crediário formal e as compras eram feitas por caderneta, que o
devedor sempre levava a cada ida ao estabelecimento.
Certo dia,
recebe ele um bilhete em mal traçadas linhas de um fazendeiro das terras de São
José do Calçado, vizinha cidade do meu amigo Zé Antonio Lahud, em que
solicitava o envio de certa mercadoria. O bilhete garatujado dizia,
objetivamente, o seguinte: “Amigo Zezé, mande 1 o 2 saco de cal. Do
amigo Fulano”.
Zezé achou
exagerado o pedido de cento e dois sacos de cal, mas imaginou que o amigo
resolvera caiar toda a cerca da fazenda, não só para protegê-la, bem como para
deixá-la bonita e vistosa. Como não tivesse tanto saco de cal, apenas
cinquenta, providenciou a remessa do seu estoque, acompanhado de outro bilhete:
“Amigo Fulano, seguem 50 sacos. Depois mando o resto. Do amigo Zezé”.
Quando lá
chegou a encomenda, o fazendeiro estranhou muito e não aceitou a entrega, pois
não fora nada daquilo que pedira. Resolveu aproveitar a carona do caminhão de
entrega que voltava, para esclarecer com o próprio Zezé o mal-entendido.
Chegando a
Bom Jesus, foi logo falando ao comerciante:
- Que isso,
Zezé?! Ficou maluco?! Mandar aquela montoeira de cal, que eu nem pedi?!
Zezé pegou o
bilhete e lhe mostrou, dizendo:
- Ora, você
me pediu para mandar cento e dois sacos de cal.
- Não é nada
disso, Zezé. Tá escrito aí: Zezé, mande um “o” dois saco de sal.
- Mas aqui
você escreveu cal.
- É que eu
esqueci a cedilha!
Imagem em pt.dreamstime.com. |
O PORCO DO
QUINIM
Quinim Freire, também proprietário rural, só que em Bom Jesus
do Itabapoana, era um homem alegre, divertido, cheio de histórias
um tanto absurdas. Os ouvintes atentos de seus casos diziam que
ele era um grande mentiroso, desse tipo folclórico do interior, que passa bom
tempo da vida matutando patranhas para dizer aos outros.
Lá um dia,
Quinim Freire contava que estava criando uns porcos de raça, coisa muito
avantajada, que chegavam a um tamanho nunca visto por aquelas bandas. Era raça
vinda das estranjas, como dizia. Gavou tanto a qualidade dos porcos que disse que
um deles já tinha chegado a dezenove palmos de comprimento. Os ouvintes da
história não acreditaram, sabendo quem ele era. Porém, muito convicto, garantiu
que era verdade, que o porco tinha crescido muito, e começou a mostrar no
balcão do bar do Salim, onde eles se reuniam para a prosa e o cafezinho,
contando compassadamente os palmos de sua mão imensa, homem alto que era.
- Um, dois,
três, quatro, cinco, seis, sete, oito...
Aí parou
para olhar o ponto de partida da contagem, já um pouco desconfiado ele mesmo,
sabendo que não estava nem na metade do tamanho que garantira. Então, saiu-se
com uma exclamação, para não deixar dúvidas:
- Eh, porco
grande, sô! Nove, dez, onze...
O TELEGRAMA
O glorioso time do Liberdade Esporte Clube, na década de 50
do século passado, foi excursionar lá para os lados da Zona da Mata de Minas
Gerais, lugar longe, só demandado em viagem de caminhão de várias horas por
estradas ruins. Era viagem de três dias: num vai; noutro joga; no terceiro
volta. Por isso o presidente do clube alvianil, orgulho da vila, solicitou ao
chefe da delegação que, imediatamente após a contenda, passasse telegrama dando
conta do score do match entre os dois teams, como se escrevia na época, as
palavras ainda não aportuguesadas.
No final
daquela noite de um domingo chuvoso, o presidente recebe o telegrama, vazado
nos seguintes termos: “CHEGUEMO, JOGUEMO, NUM GANHEMO, NEM PERDEMO. EMPATEMO.
ASSINEMO, NICODEMO.”
Tudo dentro
da mais perfeita comunicação que se poderia esperar do chefe da ínclita
delegação.
“PANARÁ OU
PURITIBA”
Certo dia, adentrou a venda de meu pai um velho freguês,
homem simples das roças que rodeavam a vila, querendo comprar uma caixa de
fósforo. Minha mãe, no momento, era quem estava atendendo ao balcão.
- Dona Zezé, quero uma ca’ de fósso - que era como, mais ou
menos, as pessoas simples falavam.
Quando minha
mãe foi pegar a caixa de fósforo, o freguês manifestou uma curiosidade antiga:
- Dona Zezé,
ondé que é a fábrica desse fósso? Ouvi dizê que é no Panará.
Minha mãe, então, foi olhar no rótulo e lhe disse:
- É isso mesmo. Aqui está: fábrica em Curitiba.
Então ele replicou imediatamente:
- Ah! bão, então é em Puritiba e não no Panará.
(* Ou seria o
contrário?)
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