5 de novembro de 2013

À BOCA DA NOITE

É tão tarde. Pela noite
Que a tudo escurece
Sem brilho sem luz sem vela
Segue a caminho da morte
Aquele que se revela
A cada passo que dá
Aquele a quem não se olha
Distante seu caminhar
Como quem parte escondido
De todos os semelhantes
Que dessemelhantemente
O desconhecem de fato.
E seguem aquele que mudo
A palavra em rasa boca
Molhada pela saliva
Se cala na viva voz
Aquele que nunca ouve
A boca porta fechada
Ouvidos ávidos fartos
Dos sons dos outros que falam.
E segue à morte anunciada
O que não diz e só ouve
Como se a fala lhe fosse
Pesado fardo a levar.
E bem tivesse palavra
O que escorre da boca
Num borbotão do pensar
Mas cala como se fosse
O som daquilo que fala
Mesmo sentido que tosse
Mais profundo que a bala
Que lhe atravessou a boca.

Noite sobre a Praia dos Ossos (foto do autor em flickr.com/photos/saint-clairmello).


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