13 de junho de 2013

LÍNGUA

(Para Alfredo Moreirinhas e José Varzeano, além-mar.)
 
Portugal calou seu fado profundo
Dentro do meu coração desgarrado
É como um Camões mudo
Um Pessoa apaixonado
Uma Florbela singela
Sem o estranhamento afogueado
Que o amor costuma como chama
Queimar o peito de quem ama

Portugal ferve a língua que me apanha
Em seu colo tépido de fonemas
E produz bem dentro algo incerto
Inusitado e quieto quando fala
E eloquente quando escuta

A língua portuguesa me acalenta
Em seus murmúrios e sussurros
Eu falo a língua que me inventa
Eu invento a língua que me usa
Como uma carga imprevisível de poema


José Malhoa, Os bêbados, 1907 (em vk.com).


4 comentários:

  1. Um belíssimo poema e eu sinto-me bastante lisonjeado!
    Neste momento especial em que temos um Presidente da República que não sabe falar português, que diz: fazerei, cidadões e chama Eslovéquia à Eslovénia, que nunca leu o nosso Prémio Nobel e até o renega, este seu poema é uma autêntica ode à língua portuguesa. Obrigado meu Amigo.
    O quadro de José Malhoa foi bem escolhido.

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    1. Políticos que nos envergonham quase são regra geral, amigo. Abraços e obrigado pelas palavras.

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  2. Tenho lido, sempre, os comentarios do teu amigo Moreirinhas, no face. Muito coerente mas falar errado não é mister apenas dos políticos; esse final de semana ao assistir a uma reportagem na TV Globo sobre o tempo, uma rapariga lascou essa "para a Região Sudeste o tempo ficará muito caloroso". Imediatamente ela se corrigiu mas o costume do cachimbo deixa a boca torta. Quanto garotão lia poemas de Pitigrilli (Dino Segre), hoje os teus. Parabens.

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    1. A língua anda espancada de leste a oeste, de norte a sul; aqui e além mar, Paulo.

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