4 de março de 2013

ENREDO


Não quero ser enredo de escola de samba,
daqui a cinquenta/cem anos.

É comum aos que escrevem versos à revelia
serem incensados algum dia,
depois que tiverem os ossos carcomidos pelos vermes.

Eu não vou querer virar enredo de escola de samba,
se tal me acontecer.

Vamos supor que meus tetranetos,
descendentes diretos desta minha utopia humana,
aceitem que eu saia em forma de alegoria
nas peças da bateria como saiu Che Guevara.
Não vou querer tal homenagem.

Nunca gostei de carnaval
e acho um desperdício
gastarem adereços e carros alegóricos,
fantasias e sambas de enredo
com cadáver mais que morto.

Se reproduzirem minha cara
no carro abre-alas,
estarei disposto,
diretamente do meu túmulo,
curtindo o meu luto,
a rebaixar a escola de grupo.

Imagem em arte0bscura.blogspot.com.
 

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