17 de março de 2013

ENFARTE


Toda quarta
Às quatro da tarde
Há um enfarte
No quarto quatrocentos e quatro
De um hotel barato
Na Rua do Senado
No centro da cidade

Toda quarta
Infalivelmente
Há um infarto
No quarto
Quando a mulata
De quartos fartos
Cavalga em fúria
O que sobra daquele velho alquebrado

E ele
Aparvalhado
Olhar incerto desnorteado
Ofegantemente obliterado
No momento exato
Vê paquidermes andando
Pelas paredes do quarto
Segundos antes
De ter novo infarto

Assim em todas as quartas
Às quatro da tarde
No quarto quatrocentos e quatro
De um hotel barato
No centro da cidade
Repete-se o enfarte
Que menos que doença
É arte
Até que a morte
De fato o arraste
Para fora do quarto
A poder de um infarto


Van Gogh, O quarto em Arles, 1889, terceira versão (em pt.wikipedia.org).

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