18 de fevereiro de 2013

SABORES DE ONTEM E DE HOJE

Estou aqui tentando pensar num assunto para um papo reto com você, leitor amigo, quando Jane, esta companheira de todas as horas, me traz um pote de jabuticabas geladinhas, colhidas ontem no quintal da casa de sua mãe em Miracema.

Não vou descrever o paladar, para que você não fique aguado, como dizemos lá, sempre que não se pode provar de algo delicioso. Não cometerei esta descortesia com você. Mas saiba que seja ela, talvez, a mais saborosa das jabuticabas que chupei na vida. E olhe que minha vida já desce desgovernada pelas corredeiras do rio, indo de encontro à cachoeira logo ali.
Quanto ao paladar, confesso, não sou pessoa saudosista. Aprendi há algum tempo que este sentido humano só está maduro aos vinte e cinco anos. Portanto tudo que provei até essa idade, pode ter sido sentido com os defeitos próprios da imaturidade gustativa.

Inclusive até comentei aqui sobre os sabores da infância, quando, num papo com meu saudoso pai, lhe dizia, por exemplo, que as mangas de hoje não têm mais o mesmo paladar das de outrora, quando eu era menino. Com a sabedoria que os pais acumulam pela vida, ele me disse que o paladar da manga não havia mudado, o que mudara era o paladar do menino.
E isto foi uma excelente dica para que eu me livrasse desse tipo de preconceito com as coisas da cidade grande, as novidades, sobretudo aquelas relativas a este ato tão comezinho e agradável, que é o comer.

Por isso é que, anteontem, estava eu na casa de minha mãe, em Bom Jesus do Norte, e rebatia o argumento do paladar do passado, relativamente à manga, dizendo que a mais saborosa que experimentei até hoje foi a manga Palmer, novidade que conheci há pouco mais de cinco anos.
Meu irmão e minha cunhada não acreditaram muito em mim e tentaram recuperar, por uma argumentação saudosista, o sabor da manga espada de nossas vidas. Mas lhes garanti que a da Palmer é superior. E descasquei uma, ainda não muito madura, das que levara para minha mãe, a fim de comprovar meu argumento. E, ainda que ela não estivesse no ponto ideal de consumo, eles puderam provar o gosto inigualável desta manga.

Outra novidade maravilhosa, descoberta também recente, é a atemoia, fruta da família da pinha (fruta-do-conde), produto do cruzamento da cherimoia, originária do Peru, com a pinha.
A atemoia tem paladar bem mais marcante que a pinha, muito mais polpa e sementes maiores, porém em número mais reduzido. Seu teor de doçura ultrapassa em muito a própria pinha. A cherimoia me é totalmente desconhecida.

Contudo outra novidade – e esta não entendo –, que me deixa politicamente grilado, é a laranja-baía importada dos Estados Unidos, que está tomando o lugar da nossa, nas gôndolas de supermercados e quitandas.
É uma laranja com a casca mais alaranjada, extremamente suculenta, sem caroço, como a nossa, e com o umbigo mais desenvolvido, em forma mesmo de uma pequenina laranja. O paladar é um pouco menos ácido que a nossa.

Confesso que tenho comprado desta, na falta da nacional, e não desgosto. No entanto o equilíbrio do sabor doce-azedo do produto brasileiro, que tende mais ao azedo, é mais instigante ao meu paladar, sempre disposto a viver perigosamente. 
Tenho adquirido esta laranja eminentemente nossa, porém importada dos EUA, mas o faço com certo pudor nacionalista (eu e esse meu antigo vezo universitário 68). Mas, para mim, é muito difícil passar por uma gôndola cheia delas e me fazer de indiferente. É a minha laranja favorita.

Agora, vou parar de chupar as jabuticabas – e encerrar este papo –. Elas têm uma péssima fama: dão prisão de ventre. Na verdade, isto nunca me aconteceu. Mas é bom prevenir. E, depois, guardo mais algumas para logo mais. Vou chupá-las pensando em você leitor, que desafortunadamente não está aqui para provar.

Jabuticaba no pé (foto do autor).

3 comentários:

  1. De facto, a diversidade de belíssimos frutos que vocês têm é invejável!
    No meu jardim, digo, no jardim de Daisy, que ela é que trata dele, temos 4 tipos diferentes de laranjas e todas de muito boa qualidade. Até temos uma laranjeira anã, com laranjas de 2cm de diâmetro, mas essas são azedas como o diabo!...
    Jaluticaba nunca provei... parecem pérolas!

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    1. A jabuticaba, além de ser fruta saborosa, dá um licor primoroso de sua casca. Ela é um pequeno balão negro que, ao ser mordido, estoura em nossa boca com o sabor da polpa de consistência suave. Geladinha, então...

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  2. Todas as outras, sim! Essa fruta nunca apareceu à venda por cá!

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