(Para Jane.)
Estou aqui, sentado em minha poltrona, lamentando o que
não vi/fiz em Paris, nesta última visita.
Paris é dessas cidades que, tão logo a deixamos,
infunde na gente o sentimento da falta, do não feito, do não curtido, daquilo
que não se usufruiu. Apesar de você fazer o mais, daí a pouco lhe bate a
sensação de que foi o menos. Que faltaram várias coisas. É só começar a rever
as fotos, a percorrer com o dedo o mapa da cidade que trouxe da viagem.
Tenho a impressão de que será sempre assim, por mais
que a visitemos.
De uma feita, fiquei durante vinte e três dias com meu
filho Pedro. Além dos jogos da Copa do Mundo, motivo central da viagem, andamos
por vários cantos da cidade, caminhamos longamente por muitas ruas, avenidas e
bulevares. Visitamos vários museus. Sentamo-nos para tomar chope e cerveja, a
bebida preferida dele, em diversos bares. Também bebemos vinho em alguns outros.
Percorremos diversas lojas de cds – música é uma das nossas maiores paixões. E,
mesmo assim, não vimos quase nada. É que Paris é uma cidade inumerável,
incontável, praticamente infinita de possibilidades.
Há pouco, você, leitor, sabe, Jane e eu voltamos de lá,
aonde fomos levar nossa netinha Gabriela, filha do Pedro, para um passeio
infantil. A estada só não foi perfeita, porque sobraram intenções. Não conseguimos
fazer tudo o que pretendíamos em dez dias. E tudo o que pretendíamos era uma
parte pequena do que a cidade oferece, até mesmo para crianças. E Paris tem tão
pouca fama de cidade para miúdos. Como disse certa vez Jaguar, no Pasquim: ledo
engano ivo!
Paris é cheia de atrações para todas as idades, para
todos os gostos. Evidentemente desde que o viajante tenha gostos. E não se
limite a um só, como aquele nosso companheiro de pacote da Copa do Mundo
ligando do orelhão do hotel em que estávamos. Aos berros, dizia para a mulher: “A
cidade é uma merda! Não tem nada para a gente fazer!”. Talvez ele estivesse
fazendo coisas inconfessas e quis iludir a esposa a milhares de quilômetros. Ou,
na verdade, era uma besta quadrada mesmo, que só enxergava a bola rolando como
o fim último da existência.
Por isso é que, agora, estou aqui, sentado em minha
poltrona, a refletir sobre tudo o que não fizemos lá desta vez. E já sentindo uma
comichão para uma nova viagem, a fim de experimentar várias outras coisas que
não fizemos. E, depois, quando voltar, começar a sentir tudo de novo.
Porque Paris é inumerável, incontável, praticamente
infinita em possibilidades.
Pont Neuf à noite, Paris (foto do autor) |
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