7 de fevereiro de 2013

FAST FOOD DE DIREITA, FAST FOOD DE ESQUERDA

O filho de um vizinho, já rapaz feito, que conheço desde bebê, certa feita reclamou do próprio pai, intelectual de esquerda, que usava sua mochila escolar para veicular diversas campanhas do credo político lá dele. Reclamava por ter carregado adesivos do MST durante muito tempo, dentre outros que, periodicamente, o pai colava em seu apetrecho escolar.

Notei que ele falava isso como algo estranho à sua vida, à sua idade. Como se tivesse sido usado, à sua revelia, como outdoor ambulante para a propaganda ideológica do coroa.
E dei risadas disso.

Tempos depois, ao lanchar com meu filho, mais velho que o jovem vizinho, contei-lhe sobre a prática desse pai. E meu filho teve a audácia de me jogar na cara a interdição que impus a ele e à sua irmã de comerem sanduíches do McDonald’s.
Durante toda a sua infância e juventude, jamais os levei a comerem a fast food ianque. E justificava minha posição ideológico-gastronômica, para aquelas cabecinhas perplexas, de que não se poderia, em sã consciência, pagar royalties para comer um reles sanduíche com batata fritas, com a carne, o pão e a batata produzidos aqui.

Recordo-me de que lhes dizia que já pagávamos dólares demais por produtos de que não podíamos abrir mão no dia a dia, como cremes dentais, sabonetes, sabões em pó, remédios, etc.. Em algo tão simples como um lanche, deveríamos evitar isto.
Claro que minha posição era reflexo de tudo o que aprendi e vivi durante os tempos universitários. Na época, devido às circunstâncias por que passava o Brasil, mergulhado numa ditadura, desenvolvemos um horror a tudo que se referisse ao Grande Irmão do Norte, com seus tentáculos econômicos, culturais e políticos, a se espalharem por todo o mundo. Eu me sentia na obrigação de resistir e passar isso para meus filhos.

E íamos comer na lanchonete Cupim, empresa concorrente, com os pés fincados nas montanhas de Minas Gerais. Eles nunca reclamaram comigo. Pareciam mesmo entender as minhas razões nacionalistas e antiamericanas. E se lambuzavam com os molhos do Cupim.
Pois não é que no momento em que lanchávamos – ele, minha nora, meus netos, minha mulher e eu – no McDonald’s de Vitória, no início do último dezembro, ele trouxe à tona essa minha esquisitice, que contou com um sorriso um tanto irônico, como a repetir a mesma visão do meu jovem vizinho sobre o pai.

Os pais às vezes são mesmo esquisitos com suas crenças, suas ideologias.
E foi a primeira vez que comi um sanduba com a marca McDonald’s. Quero dizer-lhes que talvez tenha sido também a última. Pelo menos, vou tentar resistir.

Confesso que o do Cupim era bem melhor!

E também aproveito a oportunidade, para repetir aqui pichação que apareceu, há alguns anos, em paredes país afora: “Halloween é o cacete! Viva a cultura nacional!”.
Imagem em saladaverde.com.br.

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