22 de setembro de 2015

LUMIAR X SÃO PEDRO DA SERRA



Voltei de Lumiar ontem à tardinha. Já há alguns anos não ia por aquelas montanhas tão aprazíveis de Nova Friburgo. Até me lembro da agradável impressão de quando estive na vila de São Pedro pela primeira vez. Jane e eu chegamos no finzinho de uma sexta-feira comum, e me encantei vendo as crianças saindo da escola. Comentei, então, que nunca havia visto uma tão grande concentração de crianças bonitas, bem nutridas e felizes daquele jeito. Foi aquela primeira impressão que conquista o forasteiro.
Tempos depois, nosso amigo Eduardo Campos lá construiu uma bela casa a que, com certa frequência, íamos.
Por aquela época, São Pedro era o coração pulsante daquelas grimpas de serra. Lumiar, embora famosa pela canção magistral de Beto Guedes, mostrava-se extremamente pacata, recatada, como uma donzela pudica. Sua noite não tinha nada de excitante ou convidativa. São Pedro era o que se podia esperar de um lugarzinho pequeno e agitado, embora mantendo seu ar interiorano tão encantador.
Desta vez foi diferente.
Lumiar está um outro lugar. Transformou-se. Aquilo que nos parecia abandonado pelo poder público, como o laguinho no centro da cidade, que se resumia a uma grande poça d’água feiosa, agora está cuidado, com as margens perfeitamente urbanizadas, iluminação destacada e um entorno de bares e restaurantes, com mesas externas, música ao vivo e sedução para uma parada, uma cerveja artesanal, um vinho correto, uma comidinha honesta.

Lumiar à noite (foto do autor).
A antiga pracinha acabou de ser reinaugurada, com o tradicional coreto em seu centro, e está rodeada de lugares acolhedores para o encontro dos amigos. Por seu lado, as crianças divertem-se pelo espaço renovado com cuidado arquitetônico. O agito veio para cá.
São Pedro, ao contrário, perdeu seu elã, sua badalação. Os antigos hippies que faziam o sucesso de lá já não são notados. O agito tornou-se calma e modorra.
Durante um show na pracinha de Lumiar, no último sábado, uma mulher aparentemente doidona invadiu a apresentação do cantor que se se fazia acompanhar ao violão, para cantar sua versão de Hotel California, sob o riso generalizado dos que ali estavam. Ela terminou sua performance com o grito eufórico de que “São Pedro tinha virado um cemitério”.
Fiquei triste.
Nem São Pedro, nem Lumiar merecem este antagonismo antigo e estúpido que tanto rivaliza estados, cidades, vilas, bairros, ruas e gente vizinha. Podemos crescer juntos, sem que o outro regrida. Contudo é o que pude observar nesta última passagem por essas duas vilas simpaticíssimas da serra fluminense.
Seria tão bom que tanto São Pedro da Serra, quanto Lumiar, pudessem ter seu charme, seu encanto e sua badalação própria, sem que uma vila se sobrepujasse à outra.

Gostei muito de ver Lumiar como está agora. Mas fiquei triste em constatar que São Pedro, aonde já fomos passar o réveillon de 2003, logo depois de tê-lo feito em Paris em 2002, perdeu seu jeito todo especial de conquistar o visitante. Seus escolares devem continuar tão bonitos quanto antes, mas sua noite já não tem mais o encanto de outrora.

Encontro dos rios, Lumiar (foto do autor).


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PS: Excluído e republicado por ter saído com incorreções que não puderam ser corrigidas no texto anterior.

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