2 de julho de 2015

INVERNO MEIA-ESTAÇÃO


Não queria dizer, mas tenho achado esses dias extremamente interessantes. Talvez, maravilhosos, se não for exagerar nas tintas da adjetivação.
E por que não deveria dizer? Simplesmente porque há um montão de coisas que ainda continua não dando certo. O mundo, o Brasil, o Rio de Janeiro, Niterói, Icaraí e, por fim, minha rua, afinal, estão cheios de mazelas acumuladas de anos, décadas, talvez séculos. Contudo lá fora faz um tempo de encantar os olhos.
Você não precisa ver somente o engarrafamento, assim que põe o pé na calçada do prédio. Nem mesmo aquele acidente entre duas motos, uma com um menor na garupa. Felizmente sem danos maiores.
Você não precisa sentir a tensão das pessoas que se espremem nos ônibus, no mau humor do motorista e do trocador. Nem nas notícias policiais cotidianas, ou no crescente ódio político nacional, que nos está levando a uma situação insustentável. Não somente a isso.
Lá fora o dia esbanja uma luminosidade especial. Até a praia fica mais bonita, com este sol que vem meio oblíquo a iluminar as coisas. Isto fica evidente pelas sombras gigantes dos edifícios projetadas até quase à metade do areal.
Tenho caminhado um pouco com meu neto sob o sol da manhã, para a dose diária indicada pelo bom senso. Ele mesmo, ontem, pediu para ir pela “sombrinha”, uma nesga estreita cosida aos edifícios da Pereira da Silva. Mas entendeu quando lhe disse que era preciso que ele tivesse ossos fortes. Até mesmo ele sabe que é preciso ser forte nesses tempos oblíquos.
Apesar de tecnicamente já estarmos no inverno, a temperatura sugere meia-estação. Não há calores exorbitantes, nem frios de doer. É possível sentir-se fisicamente bem com mais ou menos agasalho. Podemos fazer ou não fazer coisas com o mesmo prazer, sem o incômodo do calor ou do frio excessivos. Os corpos parecem mais prazerosos, o que se percebe pela fisionomia das pessoas por quem passo nas ruas: há uma placidez plausível nos transeuntes.
Pode ser que eu esteja totalmente enganado, mas, malgrado todas as desgraças cotidianas, sinto que os dias estão a nos convocar para um convívio de maior paz e fraternidade. A luz do sol me diz isso. A lua cheia desses dias parece querer que creiamos nisso. O vento brando que sopra da praia quer-nos convencer de que é possível.
É, a meia-estação é bem capaz de nos iludir deste jeito!

Fim de tarde no Gragoatá, Niterói-RJ (foto do autor).

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