Não queria dizer, mas tenho
achado esses dias extremamente interessantes. Talvez, maravilhosos, se não for
exagerar nas tintas da adjetivação.
E por que não deveria
dizer? Simplesmente porque há um montão de coisas que ainda continua não dando
certo. O mundo, o Brasil, o Rio de Janeiro, Niterói, Icaraí e, por fim, minha
rua, afinal, estão cheios de mazelas acumuladas de anos, décadas, talvez
séculos. Contudo lá fora faz um tempo de encantar os olhos.
Você não precisa ver
somente o engarrafamento, assim que põe o pé na calçada do prédio. Nem mesmo aquele
acidente entre duas motos, uma com um menor na garupa. Felizmente sem danos
maiores.
Você não precisa sentir a tensão
das pessoas que se espremem nos ônibus, no mau humor do motorista e do
trocador. Nem nas notícias policiais cotidianas, ou no crescente ódio político
nacional, que nos está levando a uma situação insustentável. Não somente a
isso.
Lá fora o dia esbanja uma
luminosidade especial. Até a praia fica mais bonita, com este sol que vem meio
oblíquo a iluminar as coisas. Isto fica evidente pelas sombras gigantes dos
edifícios projetadas até quase à metade do areal.
Tenho caminhado um pouco
com meu neto sob o sol da manhã, para a dose diária indicada pelo bom senso. Ele
mesmo, ontem, pediu para ir pela “sombrinha”, uma nesga estreita cosida aos
edifícios da Pereira da Silva. Mas entendeu quando lhe disse que era preciso
que ele tivesse ossos fortes. Até mesmo ele sabe que é preciso ser forte nesses
tempos oblíquos.
Apesar de tecnicamente já estarmos
no inverno, a temperatura sugere meia-estação. Não há calores exorbitantes, nem
frios de doer. É possível sentir-se fisicamente bem com mais ou menos agasalho.
Podemos fazer ou não fazer coisas com o mesmo prazer, sem o incômodo do calor
ou do frio excessivos. Os corpos parecem mais prazerosos, o que se percebe pela
fisionomia das pessoas por quem passo nas ruas: há uma placidez plausível nos
transeuntes.
Pode ser que eu esteja totalmente
enganado, mas, malgrado todas as desgraças cotidianas, sinto que os dias estão
a nos convocar para um convívio de maior paz e fraternidade. A luz do sol me
diz isso. A lua cheia desses dias parece querer que creiamos nisso. O vento
brando que sopra da praia quer-nos convencer de que é possível.
É, a meia-estação é bem
capaz de nos iludir deste jeito!
Fim de tarde no Gragoatá, Niterói-RJ (foto do autor). |
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