15 de julho de 2015

CONFITEOR


Não sou macumbeiro
Não rezo pra santo
Não faço despacho
E nem descarrego
Não bato corimba
Não guardo segredo
Não baixo espírito
Nem guio terreiro
Não leio o Torá
Não canto pra Krishna
Não sei do Corão
Nem mesmo de Vishnu
Não raspo cabeça
Não cubro a boca
Pra não comer mosca
Não guardo alimentos
Debaixo da cama
Nem mais de uma esposa
Da cama pra cima
Não tenho cristais
Pirâmides círculos
Ou mapas astrais
Não vivo telúrico
Em vilas estranhas
Não invoco Tupã
Nem danço pra chuva
Nem deixo meus mortos
Expostos às aves
Abertas entranhas
E só pra lembrar
Não entoo mantras
E não visto mantos
Kafias turbantes
E não me persigno
Ou oro contrito
Ou pago meu dízimo
A tantos e quantos
Nem tenho gurus
Mulás ou pastores
Ou fico aguardando
O momento aflito
Da hora fatal

Vivo como vivo
Et cetera coisa e tal

Salvador Dalí, A persistência da memória, 1931 (em issocompensa.com).

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