8 de junho de 2015

PARA QUE NÃO HAJA AMANHÃ


tudo que você quiser eu faço
tudo que for de ti para mim eu traço
tudo que eu puser na cabeça embaraço
e se não puder tecer eu amasso
se você quiser que eu desafine eu troço
se me quiser menino eu moço
e se não puder estar sentindo eu ouço
tudo que for de dezembro ou março
quase tudo que for impossível eu teço
ainda que não se possa imaginar eu meço
com meu compasso esculhambado ou terço
no meio desse inferno ideal eu desço
e se não houver amanhã eu fuço
qual um porco cachaço e tusso
no meio dessa fumaceira e ruço
a fim de que não caia por fim de bruços
mas se houver amanhã ou isso
talvez eu pegue chapéu e caniço
e saia por aí gastando o que me sobra de viço
para que não haja amanhã nem serviço


Pieter Bruegel, o Velho, Censo em Belém, 1566 (em wikiart.org).

----------
Este poema foi escrito na década de 80 e teve sua primeira postagem em Gritos&Bochichos, em 12/3/2010.

Um comentário:

  1. Difícil de comentar , mas fácil de entender. Presumo que não há impossível quando a vontade de estar e ter alguém é muito forte.

    ResponderExcluir