13 de junho de 2015

O POEMA


Não posso compor um poema assim aos sobressaltos
O poema não passa por estradas esburacadas
Mas por uma estrada estranha
Cujo traçado não componho
Por mais estranho que isso pareça

O poema chega à cabeça
Chega ao tronco aos braços aos dedos
E até às teclas que me estendem o corpo

Ou o poema é uma coisa assim aos trambolhões
Que assalta sem sobreaviso
Porque ouvi uma música
Porque senti um cheiro
Porque a memória transitou em vão por entre as névoas do passado
Ou entrou por um atalho intransitável do presente

O poema não se sente
Não se vive
O poema é isso que você vê
Ou pressente
E que não sei bem como apareceu até aqui

Não posso compor um poema com sentimentos somente
O poema é um tanto demente
Mas necessita das palavras para seu sustento
E seu juízo

Poema sem palavra é bruma e vento

Ou não haverá poema
Apesar de todos os contratempos que se tem
Para se compor um poema


Lua cheia em Cunha-SP, 3/4/2015 (foto do autor).

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