Não
posso compor um poema assim aos sobressaltos
O
poema não passa por estradas esburacadas
Mas
por uma estrada estranha
Cujo
traçado não componho
Por
mais estranho que isso pareça
O
poema chega à cabeça
Chega
ao tronco aos braços aos dedos
E
até às teclas que me estendem o corpo
Ou
o poema é uma coisa assim aos trambolhões
Que
assalta sem sobreaviso
Porque
ouvi uma música
Porque
senti um cheiro
Porque
a memória transitou em vão por entre as névoas do passado
Ou
entrou por um atalho intransitável do presente
O
poema não se sente
Não
se vive
O
poema é isso que você vê
Ou
pressente
E
que não sei bem como apareceu até aqui
Não
posso compor um poema com sentimentos somente
O
poema é um tanto demente
Mas
necessita das palavras para seu sustento
E
seu juízo
Poema
sem palavra é bruma e vento
Ou
não haverá poema
Apesar
de todos os contratempos que se tem
Para
se compor um poema
Lua cheia em Cunha-SP, 3/4/2015 (foto do autor). |
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