5 de fevereiro de 2015

POEMA DURO

Léon Cogniet, Tintoretto pintando sua filha morta (em parashutov.livejournal.com).


Nossos velhos moribundos espreitam a morte
Como se fosse uma namorada misteriosa.
Produzem tosse
Fazem escaras
Golfam uma longa baba amarelada
Pela boca tristemente entreaberta.
Se abrem os olhos
Veem o vácuo
Veem nada
(A parede é uma janela incerta).
Cochilam se acordados
Dormem como que abismados de escuridão
E são cuidados tais bebês sem esperança.
Nós
Hieráticos empertigados
Do alto da nossa ilusória segurança
Aguardamos receosos contando longos segundos
A vez de nos tornarmos
Definitivamente velhos moribundos.



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