11 de junho de 2014

O CASO DO GOLEIRO CEGO

Vão jogar, pelo campeonato rural de Carabuçu, quarto distrito de Bom Jesus do Itabapoana, as gloriosas equipes do Serrinha Futebol Clube e do Mutum Esporte Clube. É jogo decisivo, final de campeonato.

No gol do Serrinha, o técnico escalou seu próprio irmão, Zezito, cego de pai e mãe desde os tempos de menino. O centroavante do time do Mutum, artilheiro do campeonato, Jair Bodinho, imaginou-se fazendo gol até de bunda. Ledo engano! Durante o primeiro tempo, no gol de Zezito não entrou nem pensamento.

No intervalo, o técnico do Mutum chamou os atletas às falas: Como é que não enchiam o adversário de gols? Onde já se viu cego pegar no gol? Cadê o artilheiro do campeonato, o matador? Viraram um bando de pernas-de-pau, de mariquinhas? É assim que vocês querem ser campeões, sem fazer gol em cego? Vão ser é campeões de merda, cambada de frouxos! E só não apanhou dos atletas, depois de quinze minutos de descomposturas e ofensas, porque, além de fazendeiro rico e dono do time, ocupava o honroso cargo de subdelegado de polícia da vila.

O time do Mutum voltou a campo comendo grama pela raiz. Partiu todo para cima do goleiro Zezito que, misteriosamente, milagrosamente, mediunicamente, defendia todas as bolas.

A pressão do Mutum foi aumentando, aumentando, até que, nos minutos finais, aconteceu um pênalti em cima do artilheiro. Este tá no papo! É bola no filó! Pensou ele. Santa inocência!

Pois, lá onde a coruja dorme, o endiabrado Zezito foi catar o tirambaço, segurando a bola com mais firmeza do que toda a Serra da Capetinga.

Encerrado o jogo, o artilheiro Jair Bodinho, injuriado por todos os deuses do futebol, foi até o técnico do Serrinha, para saber o segredo de seu irmão goleiro.

- Muito simples! Você notou, quando pegou a bola para bater o pênalti, que ela estava untada de sebo de boi?

- Notei.

- E então?! É que Zezito agarra pelo faro, vai atrás do fedor do barriguim.

Zezito pegando o pênalti cavernoso de Jair Bodinho (imagem gartic.uol.com.br).

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