15 de maio de 2014

MULHERES BRASILEIRAS (VII) - RUIVAS

Encerro esta série de textos em louvor à mulher brasileira com as ruivas. Meu parco conhecimento da mulher é bem menor que a admiração que por ela tenho. Assim, é de bom alvitre - como se dizia no tempo de Machado de Assis - que eu não me meta mais a procurar outros padrões de beleza feminina. 

Vamos ao texto.

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As ruivas sempre me intrigaram. Nunca soube com segurança de onde vêm as ruivas. Da Polônia? Da Ucrânia? Da Bielo-Rússia? De Israel? Isso porque toda ruiva tem um sobrenome difícil de guardar e escrever.
Mas essa intrigante questão também interessa às mulheres. Não é incomum se encontrarem pelas ruas ruivas de todas as cores de pele, desde negras até branquelas, passando por morenas e mulatas. O que comprova a atração quase fatal que essa cor de cabelo exerce sobre a psique feminina. Minha irmã, morena, acaba de me confessar isso. E haja tintura!
Para ser realmente natural, no entanto, a ruiva tem de ter sardas, aquelas manchinhas sensuais que lhe enfeitam as faces. Nessas circunstâncias, ela passa a ser uma sedutora de marca maior. Até mesmo porque, junto a essas duas características, vêm também os olhos claros. Reparem: ruiva, cheia de sardas e olhos azuis! É a própria composição de anjos das cortes celestes a arrebatar nossos corações imprudentes.
O problema é que as ruivas não se mostram com frequência, não andam de coletivos, em ônibus apinhados de gente, em vagões de trem de subúrbio ou de metrô. Raramente vão ao Maracanã lotado. Elas só se manifestam onde o ambiente permita, porque sua ruivice ocupa mais espaço que o comum dos mortais costuma ocupar. Certa vez, na estação de Queimados, inadvertidamente, uma ruiva, com seus olhos de jade e suas sardas de âmbar, vaporosa num vestidinho verde-água, embarcou num vagão ainda vazio naquela hora. Ninguém mais ousou compartilhar o vagão com ela. Ninguém se sentiu à altura de dividir espaço com a ruiva, o que gerou grave problema de acomodação nos outros vagões. Foram quinze estações de soberania total até a Central do Brasil, onde banda de música e fogos de artifício a aguardavam.
Quando uma ruiva viaja ao estrangeiro – e elas viajam amiúde, sobretudo ao estrangeiro –, as autoridades de imigração sempre desconfiam da veracidade de seu passaporte brasileiro. O Brasil não é pródigo em ruivas, mas tem as suas, que se rivalizam com quaisquer outras das mais diversas nacionalidades. No entanto, com duas palavras e uma piscadela de olhos, ela resolve tudo. Disso fui testemunha no aeroporto Charles De Gaulle. Na minha vez de passar pela alfândega, quase tive de mostrar que não levava dinheiro na cueca, tal era o rigor do policial de La Douane em serviço.
Tenho uma concunhada ruiva, assim como sua descendência, até o netinho mais recente. Porque ruiva é assim: projeta a ruividão para além de si, como a marcar território. Mas dela, pelo menos, sei a origem: vem de uma família francesa de muitos anos atrás, aqui chegada do interior sul da França, todos eles descentes de Hugo Capeto, que reinou naquele país no século X e foi o fundador da famosa Dinastia Capetíngia, detentora do poder por mais de oitocentos anos. 
Como veem, não é pouca coisa. Talvez isso explique razoavelmente tudo o que se pode perceber das características das ruivas.

Marina Ruy Barbosa e sua ruivice (em vilamulher.com.br).

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