As negras foram a maior aquisição da
cultura brasileira para todo o sempre. Se os portugueses, por cobiça, não
tivessem trazido para cá alguns povos negros da África, hoje seríamos uma nação
completamente distinta. Somos muito diferentes de todos os nossos hermanos sul-americanos
como povo, graças à miscigenação aqui produzida. E, por conta disso, um povo
mais tolerante, mais receptivo ao estrangeiro. Se comparados aos europeus e
asiáticos, aí a distância aumenta, o fosso fica mais amplo.
Na história do povo brasileiro, o papel da
mulher negra é preponderante. Ainda que tenham sido trazidas para cá como
escravas, partilharam da criação do sinhozinho e da sinhazinha, os quais com
frequência amamentavam, criando assim uma das instituições que até hoje perdura
em nossa sociedade: a mãe de leite. Assim, direta ou indiretamente, somos quase
todos filhos de negras.
Sendo quem são e tendo a origem que têm, as
negras estão para as demais brasileiras num patamar mais seguro, porque têm
atrás de si a proteção de todos os orixás africanos. E ai de quem se meter com
uma delas, no intuito de tirar partido e sair de fininho! Não se brinca com
quem é possuidora de tal proteção.
Certas negras, inclusive, se prevalecem do
poder que têm sobre nós e fingem não saber o estrago que produzem. Se você não
tiver o corpo fechado, é melhor se precaver.
Mesmo que algumas não tenham consciência
desse seu poder, elas o exercem no dia a dia com assustadora simplicidade.
Os desavisados podem quebrar a cara com elas. Com um muxoxo, incorporam a força
telúrica dos ancestrais e podem causar dependência de todos os graus, tirando
do fundo do seu ser arrebatamento incapaz de ser confrontado com mandinga de
brancos e amarelos.
Nos idos de 60 e 70, eu e mais dois primos
ficamos encantados por uma mesma jovem negra que disseminava sua beleza nas
imediações do prédio onde morávamos. Seu sorriso franco iluminava os
circunstantes com uma aura de felicidade. Era impossível não se encantar. Um
dia, porém, ela sumiu, levada pela vida, como um meteoro de luz fulgurante. Foi
maravilhar, com certeza, outras paragens.
E as muitas outras negras com que deparamos
nas ruas, nas revistas, nas telas grandes e pequenas, com todos os seus tipos
de cabelos, com seus sorrisos e lágrimas, com seu andar cadenciado, com seus
projetos e sonhos, sua postura e determinação, a conquistar, com decisão, mais
e mais espaço na sociedade e no coração dos homens?
Agora, quem não me deixa mentir é Jorge Ben
Jor (quando ainda era Jorge Ben):
“Essa menina mulher da pele preta, Dos olhos azuis, do sorriso branco Não está me deixando dormir sossegado.” (Menina mulher da pele preta)
![]() |
Thalma de Freitas, que, além de bonita, é atriz e cantora (em ppaberlin.com). |
Nenhum comentário:
Postar um comentário