Um dia, Senhor, caiu em
uma conta num banco suíço, milagrosamente aberta em meu nome por um anjo de
Vossa corte celestial, alguns caraminguás. Uns tempos depois, pingaram outros
mais e mais outros, enfim dezenas de caraminguás voaram para lá, raiava
sanguínea e fresca a madrugada¹ aqui em terras tropicalientes. Até minha santa
mulher e minha filha imaculada foram beneficiadas por esse anjo, com contas de
que eu nem sabia, como a comprovar que “as aves do
céu não semeiam, nem colhem, nem armazenam em celeiros; contudo, o Pai
celestial as alimenta. Não têm vocês muito mais valor do que elas?”². E
Vós mesmo já dissestes, em priscas eras, que era para confiar para caramba! E eu humildemente confio!
Pois, Senhor, alguns maus
funcionários da justiça daquele país de queijos esburacados (Como confiar em um
país que não consegue nem fazer um queijo sem buracos?) resolveram assacar
contra a minha pessoa - e a de minha mulher e a de minha filha adorada - aleivosias
e insinuações, repletas de comprovantes diabolicamente conseguidos por vários
meios, para afirmarem que tudo aquilo que a providência divina resolveu cumular
em meu favor fosse fruto de desfrute de dinheiro público.
Ora, Senhor, ainda que
fosse verdade, bem sabeis que, em meu país varonil, tudo que é público não tem
dono, e, se não tem dono, pode ser meu, ainda que eu não tenha tido a má
intenção de pegar para mim, tão somente por um cúpido desejo de locupletação,
mas sobretudo para Vossa honra e Vossa glória. Estava mesmo, Senhor, pensando
em adquirir uma linda mansão no Irmão do Norte em Vossa homenagem e de Vosso
filho, tanto que até criei uma empresa religioso-benemérita, sem fins
lucrativos, de nome Jesus.com (O .com
foi um descuido de minha parte, no momento de registrar a empresa.), com o fito
de que tudo que por ali passasse fosse abençoado e limpo de qualquer possível
mácula, pecado ou desconto no imposto de renda.
Assim, Senhor, vos imploro
para que nada do que dizem contra mim seja confirmado, pois, estando em Vossa
companhia, nada temo. Como já dizia a velha canção brasileira pagã, quem anda
com Deus não tem medo de assombração; eu ando com Jesus Cristo no meu coração³
e nas minhas contas milagrosamente aparecidas em bancos suíços.
Por fim, Senhor, quero
lembrar-vos do que Vós mesmo nos dissestes: “Busquem,
pois, o Reino de Deus, e essas coisas serão acrescentadas a vocês.”⁴.
Simples assim,
Senhor: eu busquei e as coisas me foram acrescentadas por Vossa divina
providência.
Saravá! Perdão, Senhor: Aleluia!
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¹ Citação de As pombas, de Raimundo Correia.
² Mateus, 6:26.
³ Luiz Vieira e Arnaldo Passos, Menino de Braçanã (Caso queira ouvir a
música, na bela gravação de Rita Lee, clique aqui.)
⁴ Lucas, 12:31
Perfeito. O problema para ele é se Deus existir de verdade.
ResponderExcluirAí ele estará lascado, Paulo Laurindo!
ExcluirTenho que me converter...
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