24 de abril de 2014

MULHERES BRASILEIRAS (III) - MORENAS

Vou tentar limitar-me a falar das morenas no exíguo espaço deste blog, para que isso não vire um tratado enciclopédico. As morenas são assim: podem gerar páginas e páginas por cada poro da pele. Não fossem elas consideradas a preferência nacional! Senão, o que justificaria aquele bando de gente, aquela multidão exposta ao sol escaldante do mais rigoroso verão com a intenção de deixar a pele trigueira?
Quando uma morena lambe um sorvete, caminha na rua, sobe uma escada, ou desce de um coletivo – diferentemente das escassas ruivas brasileiras, as morenas andam de coletivo –, vai um séquito de adoradores atrás dela. Não há morena que não tenha pelo menos quatro ou cinco homens apaixonados, que lhe mandam torpedos cotidianamente, mendigando sobras de sua atenção. Normalmente elas não respondem a esse tipo de abordagem. Têm mais o que fazer!
As alunas morenas que tive, durante todo o tempo em que fui professor, tumultuavam até a fila da pipoca na hora do intervalo, com a sua simples presença. Algumas eram tão vultosas que, quando chegavam à faculdade, quase se suspendiam as aulas em sua homenagem. E, se elas faziam qualquer intervenção durante as aulas, o restante da classe ficava em silêncio para não perder o mínimo /s/ de um plural que saía de suas bocas como um sussurro cálido.
Uma, em especial, causou tanta devastação, que acabou por conquistar o coração de um professor – o dobro da sua idade – de outro departamento. A paixão foi de tal forma fulminante, que o dito professor abandonou a segunda esposa, preste a dar à luz seu filho, e com ela convolou núpcias, como costuma dizer o pessoal da área jurídica. É bem verdade que tal consórcio não teve duração longa, já que o mestre não conseguiu acompanhar o ritmo alucinante que a morena tinha.
Pois essa é outra característica das morenas: o ritmo acelerado. Só nas canções de Dorival Caymmi as morenas são plácidas, mansas, a esperar os maridos que chegam da lida do mar. Na vida real, no dia a dia, no pega pra capar, não conheço uma morena sequer que vá a menos de oitenta por hora. Aí fica difícil acompanhar, mas todos tentam. Por isso é que se vê esse magote de homens correndo atrás delas.
Quando solteiro, morador da rua Moreira César, esquina de Pereira da Silva, era comum ficar no bar do Zé Português, meu amigo de quatro costados, acompanhado de um bando de marmanjos, que fingiam beber cerveja com tremoços, só para ver o vai-volta das morenas em direção à praia. Eu e todos eles. Uns, mais afoitos, ainda perguntavam se tal ou qual não fora à praia naquele dia. Quando ouviam como resposta “já passou”, era como se tivessem perdido o fim de semana. E todas elas sabiam que estávamos ali prontos a criar uma nova religião, a erguer mais um altar para cada uma que passasse, a sair em procissão atrás de cada meneio de quadril. Porque não há, dentre todas, quem saiba mais menear o quadril que uma morena. E, se for cor de jambo, então, é um salve-se quem puder.
Salve a morena brasileira!

Juliana Paes, uma morena brasileira (em papofeminino.uol.com.br).

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