Este
cometedor de textos presta uma homenagem sincera, porém com algum humor, a
todas as mulheres brasileiras que, de antanho até o futuro e de todos os
quadrantes desta terra, embelezam a vida de todos nós, fazendo-nos devedores de
sua presença e da marca feminina que carregamos para todo o sempre.
Para
que não haja preferências explícitas, publicarei os textos em ordem alfabética
das homenageadas.
Começo
pelas branquelas.
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No Brasil temos um preconceito quase religioso contra as branquelas, tudo sem o meu aval. No meu fraco entendimento das mulheres, dificilmente se encontrará uma branquela de alma branca. Quase todas elas levam em si o balacobaco da miscigenação das raças, tão cantada pela música popular.
No Brasil temos um preconceito quase religioso contra as branquelas, tudo sem o meu aval. No meu fraco entendimento das mulheres, dificilmente se encontrará uma branquela de alma branca. Quase todas elas levam em si o balacobaco da miscigenação das raças, tão cantada pela música popular.
Porque não há
defeito em ser branquela, assim como em ter cabelo liso. Se há uma preferência
nacional que identifico em cada um de nós, é pela mulher bonita, independente
da cor que lhe pinta a pele.
É montado nesse
espírito que andamos pelas ruas da cidade, sempre com os olhos atentos a cada
uma que passa, na esperança de que venha outra mais bonita à frente. E isso
aprendi com um amigo que hoje pouco vejo, Walter Bretas.
Trabalhávamos logo
ali na Praça Quinze, no Rio de Janeiro, e diariamente atravessávamos de barca a
baía. Com frequência nos encontrávamos na estação e íamos juntos para o
trabalho. Numa dessas vezes, ao sair na estação do Rio, vi vindo em nossa
direção uma branquela arrumada, jeitosa, como se diz na minha terra natal. No
que ia virar a cabeça para aquilatar mais a pessoa que cruzaria conosco, Walter
sabiamente me disse:
- Se você virar a
cabeça, perde uma mais bonita que vem logo adiante.
E não é que Walter
tinha razão?! Aprendi, desde então, a não forçar mais os músculos de pescoço
nessas curiosidades, a fim de não me privar de encantos maiores por vir. Isso
porque não há a mulher mais bonita. A mais bonita é sempre aquela que vem a
seguir. E essa é uma das vantagens dessa terra brasílica.
Outra branquela que
também me desorientava o juízo, na juventude, era uma colega de ônibus, quando
ainda morava na minha vilazinha do norte do Estado. Às dezessete e vinte da
tarde, o ônibus partia da vila para levar os estudantes do curso noturno a Bom
Jesus. Em seu trajeto, passava por Apiacá, a fim de pegar alunos e demais
passageiros, já que não era um ônibus exclusivo. Era o momento mais aguardado
da viagem: entrava uma aluna uniformizada - nessa época íamos às aulas
uniformizados -, de uma branca beleza quase ebúrnea, como diriam os parnasianos.
Os ondulados cabelos negros emolduravam seu rosto perfeito (continuando com os
parnasianos). Eu, de uma timidez descomunal, ficava rezando – nessa época eu
rezava -, para que ela se sentasse ao meu lado. Algumas vezes, tímido e bobo,
viajei com o paraíso ao meu lado. Quero crer que ela nunca soube de nada, pois
da minha boca nada saiu. Talvez até desconfiasse, porque as branquelas têm uma
sensibilidade extra.
Hoje em dia ainda
vejo, na calçada da praia, perdidas entre corpos morenos, mulatos e negros, uma
e outra branquela, a pele alva de doer nos olhos, caminhando seguras de si, com
a certeza de que nem mesmo um bronzeamento artificial as faria mais belas do
que já o são.
E salve a branquela
brasileira!
![]() |
Maria Casadevall (em purepeople.com.br). |
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