16 de abril de 2014

MULHERES BRASILEIRAS (I) - BRANQUELAS

Este cometedor de textos presta uma homenagem sincera, porém com algum humor, a todas as mulheres brasileiras que, de antanho até o futuro e de todos os quadrantes desta terra, embelezam a vida de todos nós, fazendo-nos devedores de sua presença e da marca feminina que carregamos para todo o sempre.
Para que não haja preferências explícitas, publicarei os textos em ordem alfabética das homenageadas.
Começo pelas branquelas.
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No Brasil temos um preconceito quase religioso contra as branquelas, tudo sem o meu aval. No meu fraco entendimento das mulheres, dificilmente se encontrará uma branquela de alma branca. Quase todas elas levam em si o balacobaco da miscigenação das raças, tão cantada pela música popular.
Porque não há defeito em ser branquela, assim como em ter cabelo liso. Se há uma preferência nacional que identifico em cada um de nós, é pela mulher bonita, independente da cor que lhe pinta a pele.
É montado nesse espírito que andamos pelas ruas da cidade, sempre com os olhos atentos a cada uma que passa, na esperança de que venha outra mais bonita à frente. E isso aprendi com um amigo que hoje pouco vejo, Walter Bretas.
Trabalhávamos logo ali na Praça Quinze, no Rio de Janeiro, e diariamente atravessávamos de barca a baía. Com frequência nos encontrávamos na estação e íamos juntos para o trabalho. Numa dessas vezes, ao sair na estação do Rio, vi vindo em nossa direção uma branquela arrumada, jeitosa, como se diz na minha terra natal. No que ia virar a cabeça para aquilatar mais a pessoa que cruzaria conosco, Walter sabiamente me disse:
- Se você virar a cabeça, perde uma mais bonita que vem logo adiante.
E não é que Walter tinha razão?! Aprendi, desde então, a não forçar mais os músculos de pescoço nessas curiosidades, a fim de não me privar de encantos maiores por vir. Isso porque não há a mulher mais bonita. A mais bonita é sempre aquela que vem a seguir. E essa é uma das vantagens dessa terra brasílica.
Outra branquela que também me desorientava o juízo, na juventude, era uma colega de ônibus, quando ainda morava na minha vilazinha do norte do Estado. Às dezessete e vinte da tarde, o ônibus partia da vila para levar os estudantes do curso noturno a Bom Jesus. Em seu trajeto, passava por Apiacá, a fim de pegar alunos e demais passageiros, já que não era um ônibus exclusivo. Era o momento mais aguardado da viagem: entrava uma aluna uniformizada - nessa época íamos às aulas uniformizados -, de uma branca beleza quase ebúrnea, como diriam os parnasianos. Os ondulados cabelos negros emolduravam seu rosto perfeito (continuando com os parnasianos). Eu, de uma timidez descomunal, ficava rezando – nessa época eu rezava -, para que ela se sentasse ao meu lado. Algumas vezes, tímido e bobo, viajei com o paraíso ao meu lado. Quero crer que ela nunca soube de nada, pois da minha boca nada saiu. Talvez até desconfiasse, porque as branquelas têm uma sensibilidade extra.
Hoje em dia ainda vejo, na calçada da praia, perdidas entre corpos morenos, mulatos e negros, uma e outra branquela, a pele alva de doer nos olhos, caminhando seguras de si, com a certeza de que nem mesmo um bronzeamento artificial as faria mais belas do que já o são.
E salve a branquela brasileira!


Maria Casadevall (em purepeople.com.br).

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