Ninguém
nasce loura porque quer. É um determinismo astrológico, um carma zodiacal.
Mesmo que a mulher não nasça loura, um dia, forçada por alguma conjunção de
astros, ela procurará, numa farmácia próxima ou numa loja de cosméticos, a
tintura certa, para lhe dar a cor dourada dos cabelos.
Porque loura faz
devastação, provoca desmoronamentos por onde passa ou aonde chega. Ela não está
na vida a passeio. Veio para desequilibrar o frágil sistema de relações
humanas. Já começa que atende por dois nomes: loura e loira.
Conheci há cerca de
dois anos uma loura que, com a mera enunciação de um singelo bom dia, prostrou
de joelhos dois homens enfatuados, acima de qualquer suspeita, decididos a se
transformarem em joguetes em suas mãos. Só se livraram da submissão
devastadora, porque a tintura não era das melhores e, ao cabo de dois meses,
apareceram alguns insidiosos fios negros no couro cabeludo.
Outro dia, num
restaurante, entrou uma loura acompanhada de um senhor de meia idade. Nem sei
como consegui perceber a meia idade dele ao lado dela. A loura só não derrubou
uns e outros, porque estavam todos sentados. A fenda do vestido jeans da loura, todo abotoado na frente, se
insinuava acima da bota, passava pela Úmbria, triscava a Ligúria e sugeria o
Vale d’Aosta. Era um desacerto em local de pessoas com fome. Aquilo não se faz,
tenha dó!
Tive uma aluna
loura e linda, um pouco desprovida de cultura, mas que aparecia mais que todos
os outros quase cinquenta alunos da turma de Odontologia, que ia fazer créditos
de língua portuguesa no Instituto de Letras. Não havia aula em que ela não
perguntasse algo estranho, esquisito. Eu adorava. Era só a loura abrir a boca
para espalhar beleza pela sala. Havia alguns alunos politicamente corretos, da
classe dos chatos, que sempre tinham um reparo, uma crítica a fazer, nas
intervenções que ela apresentava, quase todas insustentáveis. Mas a loura dava
sustentação a cada bobagem que dizia. E com que beleza ela falava aquelas
bobagens! Jamais vi morenas, negras ou ruivas dizerem besteiras com tanta
adequação.
Há louras de todos
os tipos e de todas as qualificações intelectuais e profissionais. A cor do
cabelo não influencia, em nada, o desempenho que tenham nas mais diversas
atividades. Mas que qualquer atividade exercida por uma loura causa impressão
muito maior, disso não tenho dúvidas. Imaginem se a ex-primeira dama da França,
Carla Bruni, aquela linda mulher, fosse loura? A terra de Baudelaire voltaria a
comandar o mundo num piscar de olhos, ou, como lá dizem, num clin d’oeil. Sendo ela morena, já
provoca terremoto; loura fosse, seria um conjunto de cataclismos insuportáveis.
Quero,
então, deixar esse manifesto em favor das louras, tão criticadas em piadas
politicamente incorretas – olha a lei Caó aí, gente! – e dizer que, sem elas, o
mundo seria muito menos interessante.
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Gisele Bündchen (imagem em h2sview.blogspot.com) |
pretty nice blog, following :)
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