22 de março de 2014

DISCURSO DO PREGUIÇOSO

Eu vivo numa leseira
Ando bem depauperado
Carrego um peso nas costas
Por isso ando curvado
Nos pés parece haver chumbo
De tamanho exagerado

Quando eu vejo uma cama
Rede balanço ou esteira
É o único momento
Em que ando de carreira
Me atiro pra riba deles
Caio de qualquer maneira

E caio bem satisfeito
Seja de banda de lado
Seja de pança pra cima
Seja de modo emborcado
Caindo de qualquer jeito
Já caio bem confortado

A cama é meu destino
Na rede fico tranquilo
Então se for num balanço
Tiro sonecas de quilo
Em esteiras de embira
De sono preencho um silo

E assim vou produzindo
Como qualquer brasileiro
Planto com lua minguante
Colho o ano inteiro
A preguiça me aduba
Sou um grande prazenteiro

Vendo bocejos fresquinhos
Preguiça de hora em hora
Cochilos bem temperados
Para senhor e senhora
E também moça bonita
Não posso deixar de fora

Tenho visto muita gente
Trabalhando até demais
Procurando o que fazer
Para faturar o gás
O pão o leite e o arroz
Querosene e água rás

O Chico trabalha muito
O Zé então nem se fala
O Tonho vive ferrado
De tanto carregar mala
Façam o que eles quiserem
Que isso não me abala

Porque tenho por princípio
Nunca me apoquentar
Se a comida está bem quente
Calmo espero esfriar
Se o peixe não sai da água
Lá é que não vou buscar

Se o angu tá fumegando
Aguardo desfumegar
Se há muito rebuliço
Espero tudo amainar
Quanto mais a gente mexe
É mais fácil a gente errar

Por isso é que erro pouco
Porque quase nada faço
Pior é quem atrapalha
E causa sempre embaraço
Fazendo tudo o que quer
Esse vexame não passo

E no dia em que eu morrer
Prometo me atrasar
No tempo mais dilatado
Que eu puder dilatar
Talvez faça até gazeta
Na hora de me enterrar.

Bicho-preguiça (imagem em entretenimento.r7.com).

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