No primeiro
mês do verão suarento daquele ano de 1937, Antônio Jacobina, conhecido por
Tonico Amansa Corno, pregou sua mão pesada nas fuças de um tal Manezinho
Pindoba, por uma discussão boba de castração de porco. Tal
ocorrido sucedeu na venda do Roldão, que, dentre outras coisas, vendia
vinho quinado e cachaça vagabunda.
Os
circunstantes, na sequência da bolacha desferida, abriram a roda para ver o que
aconteceria, doidos que estavam por uma diversão naquela tarde de sábado
quente, a prometer chuva forte, conforme se podia ver lá para os lados das
terras do Azamor.
Roldão, com
sua fala estropiada, nem teve tempo de pedir paz aos brigões. Manezinho Pindoba
meteu a mão na cintura, puxou uma peixeira enferrujada e fez uma tubagem na
barriga de Tonico Amansa Corno, que caiu de borco no meio da venda, sangue se
esparramando para todo lado, o fato brotando no buraco aberto na barriga.
Antes que
todos pudessem tomar tento do acontecido, Manezinho Pindoba correu para
a porta da rua, montou sua mula ruana e sumiu para os lados da Sesmaria,
esporando a coitada com vontade.
Correram a socorrer
o esfaqueado, que deitaram de barriga para cima, ele a segurar o ferimento com
as mãos, gemendo e dizendo imprecações contra o agressor.
Esta foi a
primeira vez que alguém enfrentava Tonico Amansa Corno. Por mais de dez vezes
ele já tinha se metido a besta com uns e outros, desacatado marido de mulher
falada, ofendido gente mais fraca que ele, passado o chicote em desafeto. Até
que chegou seu dia.
Manezinho
Pindoba nunca fora um cara valente, desses que se encontram pelo interior às
pencas, capaz de falar desaforo como se dissesse um boa-noite. Era um hominho
baixo, atarracado, pele curtida pelo sol, a barba sempre por fazer, que vivia
de tirar pindoba por encomenda, criar capado e galinha. O dinheiro que ganhava
com a atividade lhe permitia pouca coisa de diversão, uma delas era tomar umas
cachaças na venda do Roldão, quando, então, comia fatias de mortadela e pão
dormido. Nunca tinha afrontado ninguém e essa foi a primeira vez que teve de
puxar a faca para se defender de uma agressão.
Quando
conseguiram levar Tonico Amansa Corno para o hospital em Bom Jesus do
Itabapoana, ele já chegou desencarnado, a alma desembarcada do corpo.
A polícia
quis saber tudo das testemunhas e foi ao encalço do Manezinho Pindoba. Achado,
preso e algemado, foi conduzido à delegacia da cidade, onde ficou mofando à
espera de advogado. Naquela época não havia defensor público.
Alguns dias
depois, apareceu por lá certo Dr. Crispim, mandado às escondidas por um dos desafetos
de Tonico Amansa Corno, cujo nome foi debulhado na concha do ouvido de
Manezinho, de modo a que o segredo fosse mantido.
Não deu dez
dias e Manezinho Pindoba voltou à sua vidinha de tirador de folhas de palmeira,
criador de porco e galinha e frequentador da venda do Roldão. O disse-me-disse
que se fez à sua chegada foi logo sanado por uma frase simples, mas dita em tom
firme:
- Araruta
também tem seu dia de mingau.
Daí em
diante, ninguém mais pensou em tirar farinha com Manezinho Pindoba.
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