19 de setembro de 2013

PEQUENA HISTÓRIA

nas primeiras dores da manhã
o parto
e o sol nascente natimorto
o amor quedando roto
pelas barrancas do rio
o filho deposto sobre a grama
esteira de formigas

nas últimas cores da tarde
a morte
e o sol posto cadente
o corpo roxo de frio
sem sopro que impulsione
na correnteza do rio

pai e mãe insones

e longe
sobre os umbrais do vir a ser
nada
nem corpo nem alma
o amor restando inútil

e a vida essa colcha de retalhos inconsútil
mal cosida
esses remendos sem desvelos
esse horrível pesadelo

Cândido Portinari, Criança morta, 1944 (em candidoportinari.net).

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