9 de dezembro de 2012

O CARIOCA DE VERÃO

O carioca, quando não está roubando, assaltando e traficando, é um povo engraçado, hospitaleiro e inventador de moda. Sobretudo quando se aproxima o verão.
Pois não é que o verão está batendo às portas de nossa primavera envergonhada e produzindo temperaturas saarianas, condições mais que propícias a que o carioca comece a armar no nervoso do seu cérebro uma maneira de marcar esta estação?
Na semana passada, os adeptos da ioga (com ó e não ô, como querem os adeptos da ioga) de corpo sarado e gostoso inventaram a ioga sobre prancha de stand up paddle na Lagoa Rodrigo de Freitas.
A ioga (com ó aberto mesmo) mesma não está nem aí para essas novidades, porque vem de milhares de anos e é muito conservadora. Mas a gostosa que apareceu de biquininho no meio da água poluída da Lagoa conseguiu seu instante de febre, sua fama passageira, em poses para Kama Sutra nenhum botar defeito. Até eu, com minha provecta idade, senti certa comichão nas partes ao ver as fotos da bela iogue.
Não é que agora se inventou ioga (com ó) na corda bamba, a tal de slackline, a yogaline.
E tudo isso com nomes em inglês que é para os beócios de sempre, como eu, não saberem dizer, quando querem se mostrar antenados com a modernidade, em rodas de chope nos bares mais descolados, segundo a mais recente lista do jornal.
Mas a coisa não para na ioga (com ó)!
Inventaram também um novo penteado que deixa os cabelos com jeito de que acabaram de sair do mar em que se fazia surf. Mesmo a carioca que acabe de sair de seu ambiente sustentado a ar condicionado – as temperaturas têm sido, como disse, saarianas –, vai dar a impressão aos amigos e parentes que, na mentira, desceu de uma prancha de surf há alguns minutos. E fica com aquela cara de excelsa superioridade no quesito felicidade que só o carioca sabe fazer, para mostrar que mora na melhor cidade do mundo, principalmente se comparada a São Paulo.
Para que o tal efeito funcione melhor, usa-se um spray de alga marinha que, segundo informações, deixa o cabelo armado e cheirando a maresia. É que, na concepção carioca de vida, melhor cheirar a maresia que a eflúvios do Tietê.
E esse jeito orgulhoso do carioca para com sua cidade chegou até o quesito tatuagem: os cariocas estão plantando em suas peles reproduções de pontos turísticos e vistas da cidade. Umas, com estilo bucaneiro – aquele Cristo Redentor parecendo pirata do Caribe –; outras, com estilo Niemeyer – apenas dois riscos falsamente despretensiosos para reproduzir o contorno das montanhas da orla em antebraços, braços, coxas, cacundas e cangotes.
Fora a retomada de estilo de vida artística consagrado há décadas pelos Novos Baianos, em que um bando de gente se reúne em comunidade para tocar sua arte, seja lá ela qual seja ou mesmo que eles pensem que seja. O que, no fundo e afinal, não faz a mínima diferença. Só que agora, em vez de sítio, é um amplo apartamento dúplex com ar condicionado e o verbo utilizado é um verbo da moda: agregar. Pois é, tais comunidades estão agregando amigos, para que, assim, o furdunço soe da maneira mais muderna possível.
É... quando chega o verão, o carioca fica com o miolo mole e começa a inventar modismos.
Mas é melhor isso do que assaltar, roubar e traficar. Né não?

Cariocas aptos a inventarem modismos de verão (em sosriosdobrasil.blogspot.com).

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