Há cerca de quatorze anos, escrevi uma carta para Gabriela, minha neta, tão logo ela retornou à sua casa, após passar um fim de semana conosco. Hoje encontrei essa carta num pen-drive com alguns documentos e fotos antigas, da mesma época. Aproveitei, então, que Gabi já sabe ler há muitos bons anos e pode muito bem entender o que passava pela cabeça do avô, diante do encantamento por sua primeira neta, para a enviar por Whatsapp.
Aí está a carta.
"Minha linda netinha Gabriela,
Você tem apenas um ano e um mês. Já anda, já fala as primeiras
palavras. Vou enumerá-las para que você saiba, tentando o mais possível
reproduzir o modo como você as produz: “papá”, “mãmã”, “bobô”, “bobó”, “inda”
às vezes “dinda” (para madrinha), “lá” (para Flávio, com um movimento da língua
que pressupõe que antes do /l/ vem alguma coisa ainda não bem dita); “papato”;
“cocó”, “dedera”; “papá” (para comida); “papo” (sapo); “Didite” (Vó Judith);
“Zezé” (bem aberto), dentre outras que não me ocorrem.
Nós (eu, sua vó Jane, sua dinda Estefânia) achamos você muito
esperta e precoce, porque consegue falar tudo isso e entender quase tudo que
falamos com você.
Além disso, você é uma garotinha muito obediente. Atende às
proibições de alguma atitude que possa levá-la a se ferir.
Tem vivo interesse em alguns vídeos de histórias infantis (Branca
de Neve, Cinderela) e de músicas (A palavra cantada, por exemplo). Gosta de ver
os intervalos comerciais do canal Discovery Kids, mas não tem muita atenção
para as historinhas que são apresentadas.
Você é uma menina muito comunicativa, esperta, alegre, de um bom
humor contagiante, embora seja cheia de vontades e, às vezes, brigue por isso.
Sabemos que, na Casa de Rui Barbosa, você joga beijo para os
porteiros e os seguranças, e todos lá gostam muito de você.
Sua mãe e seu pai sempre a trazem muito elegante e bonita, cheia
de apetrechos que os nenéns usam em sua bagagem.
Não há como conviver com você sem se apaixonar.
Boa parte do que nós somos é herança de nossos pais. Outra nós
trazemos naturalmente. Uma outra adquirimos pela vida afora.
Você traz consigo o bom humor, a alegria e a felicidade
contagiante. Isso você pode cultivar durante toda a sua vida, pois assim viverá
melhor.
De seus pais, você adquire, além de traços físicos e de
personalidade, a educação, o trato com as pessoas, o senso de responsabilidade,
a noção de ética, o interesse por diversos assuntos (música, cinema, esporte,
por exemplo).
A vida vai lhe mostrar os embates, os caminhos, as opções, o
outro, que nunca deve ser encarado como o oposto, mas apenas como o diferente
de você. Não temos necessidade de lutar contra o nosso semelhante, mas fazer
dele nosso aliado, para que os embates, os caminhos e as opções sejam os
melhores, os mais promissores.
A escolaridade também vem de fora. E é preciso que você aproveite
o máximo possível de sua passagem pela escola. Tire dela o máximo possível,
para que você possa também retribuir com o melhor que puder.
Um beijo do vovô
Saint-Clair"
Um vô coruja e sábio.
ResponderExcluirA gente faz o que pode, amigo!
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