13 de agosto de 2015

COMO DÓI A SOLIDÃO


Vício, mesmo, era sua solidão. Possivelmente mais que vício: uma doença crônica. Estivesse ele acompanhado dos amigos, rodeado de mulheres, numa sauna da Correia Dutra ou na arquibancada do Maracanã em dia de clássico, a solidão estaria lá, a par dele, sobre ele, dentro dele. Sem comiserações, sem compaixões. Abrissem seu peito e lá encontrariam um buraco imenso, abarrotado por um silêncio ensurdecedor, por um eco mudo. E não era dizer que fosse uma pessoa desacompanhada, solitária. Muito ao contrário! Estava sempre cercado de gente, sempre em contato com outros. Entretanto faltava-lhe algo mais nas relações pessoais, para que pudesse sentir-se reconfortado internamente, sem a sensação desumana do abandono e da solidão.

Onde achar o tratamento eficiente? Com que profissional? Com que mestre ou guru? Com que remédio?

Deitou-se em divãs de psicanalistas, tomou passes e descarregos, livrou-se de encostos, fez ioga, buscou explicações esotéricas, frequentou espiritismo de mesa, pagou dízimo a seitas e pastores, mergulhou na leitura de livros devocionais, andou de braço com Og Mandino, Richard Bach e Paulo Coelho, entrou para bandos de motociclistas, aprendeu a dançar. Nada conseguiu livrá-lo da maligna solidão. Nem mesmo os porres que passou a frequentar aproximavam-no da cura.

Imagem em 31tentandoemagrecer.blogspot.com.

Até que uma tarde de sábado, só na mesa do Amarelinho, copo de chope à frente, caiu de amores por um travesti que o fitava acintosamente por entre as batatas fritas. Foi uma paixão acachapante, avassaladora, como nunca sentira em toda sua vida. Casaram-se em segredo, na semana seguinte, e estão vivendo o maior amor do mundo. Ele, no entanto, um pouco ciumento, tipo marido antigo, machão. Só não dá uns pescoções na outra de vez em quando, por seus flertes desavergonhados com garotões, para não voltar novamente a sofrer do mal que o acompanhou até conhecê-lo (-la?).

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