Esta
história se deu na Paróquia do Senhor Bom Jesus, na cidade de Bom Jesus do Itabapoana,
nos anos tais, com as pessoas quais, cujos nomes alterei, que não estou aqui
para ser processado por calúnia, injúria e difamação. Mas é tão verídica,
quanto qualquer outra que já contei ou posso vir a contar, para fazer a crônica
da minha cidade natal. Para o bem ou para o mal.
Zé
de Lina é corno. Lina é a que o fez ser corno. Mas ele se conforma: não leva
para o lado da ofensa pessoal o comportamento deletério da mulher. É corno sem vergonha
naquela cara estanhada, bexiguenta, de homem desmoralizado. Lina não chega a
ser essa belezura toda. Mas tem ancas largas, cabelo preto comprido penteado em
grossa trança, que desce até a vertente da popa. E uns seios estofados de fazer
platibanda sobre a barriga já um tanto redonda. E não se esconde atrás de
nenhuma dessas posturas falsas, fingindo-se dona de virtudes peregrinas, como estampa
sempre A Voz do Povo, o jornal local, ao se referir às damas da sociedade. Conta
para as vizinhas suas reinações e a bonomia de Zé, que a tudo assiste impávido,
como convém a um corno conformado. Ele não desconfia, mas é a vergonha da rua
do cemitério, onde mora. Todos ali sabem de sua condição vexaminosa. E ele
continua a jogar sua sinuca e a tomar sua cerveja com os parceiros, com a mesma
cara como se fosse o mais amado dos maridos das senhoras de respeito.
Dentre
os casos de que detinha a posse, Lina tinha certa predileção por Zinho Mateus e
seus mimos. Homem de muitos alqueires de terra e de centenas de cabeças de
gado, conduzia seu caso com Lina nas mesas dos bares por onde ia bebericar nas
noites de calor, com os amigos parecidos com ele. Na cidade pequena, boa parte
da população conhecia a história.
Zé
sabia de Zinho, que pensava que o corno fosse inocente. E Zinho tinha até
alguma comiseração pelo papel do marido, sem desconfiar de que o sujeito era de
caráter mais frouxo que precata velha.
Certo
dia, Zinho vinha chegando sem se dar conta de que Lina não pusera na janela da
esquina a toalha vermelha, indicativa da ausência do marido. E foi contando os
passos quintal adentro, ultrapassando o portão de madeira, que fechou com um
golpe seco no trinco de ferro. Até o cachorro de Zé tinha o amante como pessoa
das intimidades da casa.
Lina,
pega então de surpresa, disse apreensiva para o marido que o amante estava
chegando de supetão. Sem tempo para se escafeder dali e deixar o pasto livre
para o cavalo pastar, Lino se atirou sob a cama do casal, já que o armário era
acanhado demais para sua pessoa.
Com
a sem-cerimônia dos amantes estabelecidos, Zinho foi entrando, enquanto Lina
corria a se preparar para os embates que se anunciavam, como de hábito. O homem
senta-se à beira da cama e começa a tirar as botinas, enquanto fala algo até
então impensável para ela:
-
Lina, ando com pena do Zé, coitado! Estou botando chifre nele há tanto tempo, que
isso já está me deixando com remorso. Estou até pensando em comprar um corte de
linho azul e dar de presente para ele mandar fazer um terno novo. Até pago o feitio
para ele lá no Branco Alfaiate.
Embaixo
da cama, Zé ouve a ponderação daquele que lhe aplica os chifres sobre a cabeça,
futuca a mulher, já deitada ao lado com as lingeries do dia, e lhe diz baixinho
para não ser ouvido:
-
Pede marrom, que azul eu já tenho.
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