Seu Fulano estava de saída
para a banca de jornal, quando a mulher lhe pede que compre o remédio para o
exame que iria fazer.
Quando se chega à idade
dos estragos, há um sem número de exames a se fazerem. Aquele, especificamente,
era do tipo desastroso: colonoscopia. O leitor mais jovem, com toda a certeza,
nunca ouviu falar disso. O que é até razoável. Mas, depois que o Cabo da Boa
Esperança é ultrapassado, as invasões corpóreas se dão de norte a sul: examina-se
o estômago, por cima; e os intestinos, por baixo. Este é a colonoscopia. A
palavra, se meu caro leitor tiver passado por aulas de etimologia, há de ser
conhecida. Se não, não me custa dizer: visão do cólon. Quer dizer, é coisa de
se introduzir um tipo de mangueira, com uma câmara na extremidade, naquilo que
Mussum outrora chamava de forévis, para a prospecção do pré-sal, se é que me
entendem. Só de pensar, é de dar arrepios a frade de pedra, aquele lá do
Espírito Santo.
Por isso é que, para que a
visão intestina não tenha atrapalhos, se faz necessário limpar as tripas de
todo tipo de detrito. Então, a recomendação dela para que Seu Fulano trouxesse
o laxante, o destranca tripa. Leu ele lá no papel com as indicações do
laboratório e verificou: Ducolax ou Lacto-Purga.
- Querida, vou trazer Lacto-Purga.
- Ah, não! Traga outro!
Esse, não!
- Por que não esse que já
conhecemos?
- É que quero variar um
pouco. Não gosto de ficar repetindo coisas.
Ah! a mulher e sua incontrolável
mania de novidades!
O marido achou estranho.
Que ela quisesse um novo sapato, uma bolsa diferente, um vestido de corte
moderno, tudo bem! São novidades previstas no cardápio do estilo feminino de
ser. Mas, diabos, querer novidades em laxante intestinal aí já chega às raias
da insensatez.
E tentou ponderar com ela
que nem sempre é preciso estar inovando, procurando ser diferente. Ela não iria
a um desfile de cagonas, onde certamente diria dos benefícios de um novo
remédio, da dinâmica da sua ação e das consequências daí advindas. Iria, bolas,
apenas desobstruir os intestinos, para que o médico pudesse verificar se não
haveria novidades indesejadas lá dentro. Nada além disso, pombas! Até lhe falou, todo cheio de dedos – há sempre de se ter muito tato com o espírito feminino –, do acerto dessa
preocupação dela em estar sempre descobrindo coisas novas, para apresentar nas
conversas com as amigas. Mas, para tudo, há um limite. Não seria necessário que
um simples remédio para provocar caganeira fosse motivo para seu desejo
novidadeiro.
Depois de alguns minutos
de idas e vindas de argumentos, a mulher cedeu, sob certos protestos, mas
resolveu não inovar no remédio desta vez. Ele havia ganhado a batalha do piriri
programado. Foi à farmácia e voltou com o bendito Lacto-Purga.
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Imagem em agenciailumina.spaceblog.com.br. |
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