9 de outubro de 2012

"NA NOITE GRÁVIDA DE PUNHAIS"

o verbo se fez bala
na trajetória dos poetas de angola
cabo verde são tomé e príncipe
moçambique guiné-bissau

a carne converteu-se em alimento
da luta
em fogo da artilharia

e bem que nos avisaram
a nós brancos ocidentais cristãos
(apesar de serem apenas serviçais)

e bem que nos preveniram
para que fugíssemos para mais ocidente
trazendo nossos automóveis
dinheiro joias
rancores e ódios
para que limpássemos as terras de áfrica
de nossa desbotada cor opressora
(apesar de serem apenas serviçais)

nossos ouvidos surdos dos gritos torturados
não perceberam o aviso
que explodia das gargantas secas feito a terra
e se transformou na noite grávida de punhais
em gritos de liberdade entoados ao som
dos quissanjes – corpos negros dos filhos exangues de áfrica

Imagem em patriciaeducadora.blogspot.com.

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(Nota: O título deste poema foi retirado da antologia organizada pelo poeta guineense Mário de Andrade e publicada pela Livraria Sá da Costa, Lisboa, 1975: Na noite grávida de punhais: antologia temática da poesia africana, que me foi presenteada pelo amigo Rogério Andrade Barbosa, depois de uma estada em Guiné-Bissau em fins dos anos 70. Este texto é da década de 80.)

2 comentários:

  1. Fiquei engasgada. Difícil não ter palavras para elogiar. Mas considere o meu silêncio como meu elogio maior. Lindo.

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