7 de maio de 2020

CADA UM GOSTA DO QUE GOSTA II


Minha mãe gostava/gosta de rezar e ver a família reunida em torno de uma mesa farta.
Onair gostava de se fantasiar de baiana no Carnaval e sair no bloco pelas ruas da vila.
Darcy Modesto gostava de vender cachaça.
Isaías Bonga gostava de partir como um foguete pela ponta esquerda do Liberdade Esporte Clube e cruzar a bola sobre a área.
Tio Inácio gostava de dirigir seu velho caminhão Ford Gigante atabalhoadamente pelas estradas de chão.
Nico Dutra gostava de camisas de linho branco passadas à perfeição e dar tacadas estrambóticas nos jogos de sinuca.
Romeu, Renato e Antônio Milton gostavam de ganhar nos jogos de sinuca de quem os desafiasse.
Zezé Peçanha gostava de cuidar da pracinha recém-reformada com uma disposição de leão de chácara.
Tia Edith gostava de ir às missas na capela e zelar por sua extensa prole.
Tio Tônio Pinto gostava de sorrir meio sem jeito, como um Figueiredo, e fazer sorvetes cremosos.
Heitor Barroso gostava de fazer peças em metal e liderar o grupo de escoteiros que criou na vila.
Paulinho Sucanga gostava de pilhérias e de jogar futebol com a maestria dos grandes craques brasileiros, apesar do seu jeito franzino.
Tio Cícero gostava de aplicar vacinas nos habitantes de vila com uma pena de caneta tinteiro quebrada, com que escalavrava a pele do braço.
João Dutra gostava de contar histórias hilariantes e gabar as qualidades inimitáveis do seu relógio de bolso.
Nego Souza gostava de dar boas gargalhadas e fazer uma barba bem escanhoada nos fregueses.
Deco Manhães gostava de contar causos engraçados e chamar os amigos de Campeão: Aí, campeão!
Alcides Relojoeiro gostava de consertar relógios e permanecer recluso em casa.
Messias gostava de sua cachorra Certeza, de remendar sapatos e tocar trombone na Furiosa.
Juca Jacó gostava de pilar arroz e zelar por sua família numerosa.
Lulu gostava de pilar arroz e fazer fubá e canjiquinha.
Jair Pasarelo gostava de dar boas gargalhadas, enquanto cuidava dos cavalos em sua cocheira.
Roldão gostava de atender seus fregueses no bar, sempre com uma cerveja gelada e um bom tira-gosto.
Laura gostava de receber e entregar correspondência, no postinho dos Correios em sua residência.
Felisberto gostava de fazer seus sermões na Igreja Presbiteriana e cuidar de sua loja comercial.
Antônio Miranda gostava de manipular suas poções e cuidar da saúde dos moradores da vila.
Mansur gostava de dirigir caminhão, durante a colheita da cana, e fazer excelente comida árabe em seu bar.
Seu Amim gostava de cuidar de seu automóvel, que servia de carro de praça nos idos de 50 e 60 na vila.
Tio Tieca gostava de, a cada verão, alugar casa em Guaxindiba e lá passar um bom tempo, levando consigo vários agregados.
Mané Gibaita gostava de consertar motores e construir alguma máquina que o fizesse voar.
Zé Caiana gostava de gaguejar e fazer pães e roscas na padaria.
Joaquim Eletricista gostava da família numerosa e de zelar pelo serviço de fornecimento de energia da vila.
Dona Zulmira gostava de plantar verduras e temperos em sua horta caprichada.
Cirilo Braz gostava da sua venda sempre animada nos fins de semana.
Dona Nega gostava de sua coleção de miniaturas de Coca-Cola e de fumar seu cigarro tranquilamente.
Elias Penudo gostava de manter seu bom humor e sua máquina de pilar funcionando.
Eu gosto de recuperar essas memórias, para que o tempo não as deixe no limbo para sempre.


Um comentário:

  1. Um show de lembranças que somente podem ser contatas, devido os feitos e legados deixados por pessoas, que escreveram suas vidas e suas histórias no dia a dia da nossa vila.

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